Não é a tinta que primeiro se move — é a alma.
Na obra de Madalena Bento de Mello, o gesto pictórico nasce de um vínculo silencioso
com a floresta, uma escuta profunda das pulsações da natureza. Sua arte não descreve:
evoca. Não retrata: revela. Como quem não busca dominar a imagem, mas sintonizar-se
com sua frequência essencial, a artista ergue telas que são tanto paisagem quanto
espelho — do mundo e de si.
Ao contemplar suas criações, sente-se mais do que se vê. Verdes densos, amarelos
solares, vermelhos em expansão: a matéria ganha corpo em espatuladas generosas,
quase como se a floresta tivesse tomado a liberdade de pintar a si mesma. Cada cor
vibra como uma nota da sinfonia amazônica, e cada forma parece brotar com a mesma
força orgânica de um cipó no tronco antigo. A vegetação ali não é observada — é vivida.
Sua técnica, intuitiva e visceral, não segue escolas nem fórmulas: é um diálogo entre
impulso e consciência. A artista — também psicóloga — mergulha fundo em sua
interioridade para emergir com imagens que, embora visuais, carregam o peso da
experiência emocional. E é justamente na união entre arte e psique que sua pintura
encontra potência: a floresta se faz cura, e a arte, reconexão. Ao pintar, Madalena não
representa a Amazônia — ela se funde a ela. “A floresta e eu somos um único ser”, diz. E
sentimos isso em cada fragmento de tela preenchido com movimento e vibração.
Se a Amazônia fosse uma emoção, para Madalena seria a alegria. Uma alegria ancestral,
visceral, que não sorri, mas resplandece. Nas suas mãos, ela se manifesta em camadas
densas, em texturas que parecem ter vida própria. Não há passividade: há gesto, há
energia, há celebração da natureza como corpo e espírito. Como se cada obra
afirmasse: “a floresta está viva — e eu também.”
Seu olhar, influenciado por Monet, transcende o mero encantamento visual. Madalena vê
a luz não como um fenômeno externo, mas como algo que nasce de dentro. Assim, a luz
sutil dos jardins impressionistas e a explosão da floresta tropical se tornam aliadas em
sua pintura. Ambas falam de presença, de atenção, de um chamado à vida em sua
plenitude. Ambas revelam a essência de Madalena.