Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Não é a tinta que primeiro se move — é a alma.

Na obra de Madalena Bento de Mello, o gesto pictórico nasce de um vínculo silencioso

com a floresta, uma escuta profunda das pulsações da natureza. Sua arte não descreve:

evoca. Não retrata: revela. Como quem não busca dominar a imagem, mas sintonizar-se

com sua frequência essencial, a artista ergue telas que são tanto paisagem quanto

espelho — do mundo e de si.

Ao contemplar suas criações, sente-se mais do que se vê. Verdes densos, amarelos

solares, vermelhos em expansão: a matéria ganha corpo em espatuladas generosas,

quase como se a floresta tivesse tomado a liberdade de pintar a si mesma. Cada cor

vibra como uma nota da sinfonia amazônica, e cada forma parece brotar com a mesma

força orgânica de um cipó no tronco antigo. A vegetação ali não é observada — é vivida.

Sua técnica, intuitiva e visceral, não segue escolas nem fórmulas: é um diálogo entre

impulso e consciência. A artista — também psicóloga — mergulha fundo em sua

interioridade para emergir com imagens que, embora visuais, carregam o peso da

experiência emocional. E é justamente na união entre arte e psique que sua pintura

encontra potência: a floresta se faz cura, e a arte, reconexão. Ao pintar, Madalena não

representa a Amazônia — ela se funde a ela. “A floresta e eu somos um único ser”, diz. E

sentimos isso em cada fragmento de tela preenchido com movimento e vibração.

Se a Amazônia fosse uma emoção, para Madalena seria a alegria. Uma alegria ancestral,

visceral, que não sorri, mas resplandece. Nas suas mãos, ela se manifesta em camadas

densas, em texturas que parecem ter vida própria. Não há passividade: há gesto, há

energia, há celebração da natureza como corpo e espírito. Como se cada obra

afirmasse: “a floresta está viva — e eu também.”

Seu olhar, influenciado por Monet, transcende o mero encantamento visual. Madalena vê

a luz não como um fenômeno externo, mas como algo que nasce de dentro. Assim, a luz

sutil dos jardins impressionistas e a explosão da floresta tropical se tornam aliadas em

sua pintura. Ambas falam de presença, de atenção, de um chamado à vida em sua

plenitude. Ambas revelam a essência de Madalena.