Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

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ArtNow

Edição 09

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Setembro

Setembro 2025

2025

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Setembro 2025

O voo pictórico de

O voo pictórico de

O voo pictórico de

Petterson Silva

Petterson Silva

Petterson Silva

NAS TELAS DE

PETTERSON SILVA, O

INSTANTE SE ETERNIZA.

CADA PENA, CADA

REFLEXO DE LUZ SOBRE

O OLHO DE UMA ARARA,

cada sombra projetada pela curva das asas — tudo é capturado com uma precisão

quase impossível, como se o artista tivesse aprendido não apenas a observar, mas

a respirar no mesmo compasso da natureza. Seu hiper-realismo não é mera

técnica: é uma forma de devoção.

Criado entre o verde profundo e os rios de Mato Grosso, Petterson cresceu como

quem dialoga com a floresta. Pescando, contemplando e ouvindo os estridentes

psitacídeos admirando o grafismo Indígena e a arte plumaria, desde cedo entendia

que natureza não é um cenário, mas uma presença. Essa intimidade com a

paisagem moldou não apenas seu olhar, mas também sua paleta. Nos seus

quadros, a Amazônia não é pintada — ela pulsa.

Influenciado por mestres como Portinari, Tiziano e Caravaggio, aprendeu a construir

narrativas com luz e sombra. O chiaroscuro que adota não serve apenas para

destacar formas, mas para dramatizar a experiência: o voo de um tucano pode

surgir de uma penumbra densa, como se atravessasse o limiar entre o visível e o

imaginado.

Petterson não se contenta com a fidelidade da imagem. Ele busca a

fidelidade da emoção. Observa durante dias uma ave, absorvendo sua

postura, seus gestos, a vibração cromática que só o olhar persistente

consegue decifrar. Ao pintar, não reproduz: interpreta. É por isso que suas

obras, embora rigorosamente exatas, não são frias — ao contrário, têm

calor, ritmo, um sopro vital que escapa da tela.

Reconhecido internacionalmente, Petterson Silva coleciona prêmios que

atestam seu talento e dedicação. Do Primeiro Lugar no Salão Brasileiro de

Arte em Liechtenstein, ao Prêmio Giulio Cesare em Roma, até a honraria

Top Of Mind International Award em Londres, seu trabalho ultrapassa

fronteiras, ecoando o valor de sua arte para além da Amazônia.

A espiritualidade é seu alicerce silencioso. Cristão convicto, vê no ato de

pintar uma oração que se traduz em cor. “Pintar é expressar gratidão”,

diz, e talvez seja essa reverência que explica a ausência de arrogância

em sua técnica impecável. Ele sabe que cada tom, cada detalhe, é antes

de tudo um empréstimo da criação divina.

Ao contemplar uma obra sua, o espectador não apenas reconhece a

beleza de uma espécie: sente-se convocado a protegê-la. O hiper-

realismo de Petterson é também um manifesto ecológico — não

panfletário, mas sensível. Ele nos lembra que a sobrevivência dessas

aves depende de escolhas humanas, e que a arte pode ser ponte entre

fascínio e consciência.

Na Amazônia, a vida é feita de encontros raros. O de Petterson com sua

arte é um deles. Suas telas não registram apenas o que os olhos veem,

mas o que a memória quer guardar. E, ao fazê-lo, transformam cada

espectador em testemunha de um voo que não termina quando a

moldura se fecha.

Instagram: @pettersonarte

Editorial

A Art Now Report é uma revista dedicada à

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todas as suas formas e expressões. Nosso

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Setembro 2025

Desperte sua criatividade. Bem-vindo à ArtNow Report.

Pintura

Fotografia

Cerâmica

Escultura

Faces da Floresta

Faces da Floresta

Faces da Floresta

Bernardo David

Bernardo David

Bernardo David

A história da arte está repleta de imagens que olham para os povos indígenas. A arte de

Bernardo David é sobre quando eles nos olham de volta. O rosto que estampa a capa da

ArtNow Report Internacional não é um objeto de contemplação etnográfica; é um sujeito que

nos interpela. A técnica hiper-realista, aqui, não serve à vaidade do virtuosismo, mas a um

propósito mais profundo e radical: tornar a presença daquela criança tão inegável, tão

visceralmente humana, que qualquer distância — geográfica, cultural, histórica — entra em

colapso. Esta é a essência do trabalho de Bernardo David: usar a precisão como ferramenta

para a dignidade, transformando a pintura em um ato de reconhecimento.

Essa maestria não nasceu nas academias, mas foi forjada no tempo lento de Tiradentes, a

cidade histórica mineira para onde se mudou na adolescência. Ali, em ateliês e na varanda

de casa, ele aprendeu a "observar tudo ao seu redor", desenvolvendo uma disciplina e uma

paciência que se tornariam a assinatura de sua obra. Sua técnica virtuosa não é o fim, mas o

veículo para uma busca mais profunda: a da essência por trás da aparência.

O hiper-realismo, em suas mãos, torna-se uma forma de reverência. Em um

mundo de imagens rápidas, descartáveis e que muitas vezes exotizam os povos

originários, dedicar horas para capturar a singularidade de um rosto é um ato

que é, ao mesmo tempo, poético e político. É um gesto de profundo respeito, que

devolve ao retratado o tempo e a atenção que lhe são historicamente negados.

Ao pintar os povos da Amazônia, Bernardo não está documentando uma etnia;

ele está usando sua maestria para imortalizar a força, a individualidade e a

humanidade de cada pessoa.

Sua habilidade em traduzir essa essência para qualquer superfície foi

recentemente confirmada por sua incursão premiada no universo da

tatuagem. Seja na tela ou na pele, o que permanece é sua capacidade

de capturar o espírito por trás da forma, um talento que transcende o

suporte e se firma na profundidade de seu olhar.

Agora, a vida traz um novo e maior projeto para o artista: a paternidade.

É impossível não traçar um paralelo entre o olhar de profunda atenção

que ele dedica aos seus retratados e o que agora dedica à sua filha

Bella. A arte de Bernardo David, ao nos forçar a olhar demoradamente

para um rosto, nos convida a reencontrar a humanidade no outro. Um

legado de empatia e presença que ele agora expande, como artista e

como pai, nos lembrando que o ato mais radical talvez seja,

simplesmente, o de prestar atenção e reconhecer a soberania de quem

nos olha de volta.

Instagram: @bernardodavid.art

Nas mãos de Elson Júnior, a caneta esferográfica — objeto comum do cotidiano — torna-se

ferramenta de denúncia, reverência e reconexão. Seu traço firme e íntimo revela mundos que

muitas vezes insistimos em não ver. É com ela que ele escreve histórias silenciadas,

redesenha rostos apagados pela história e reconstrói pontes entre o que fomos, o que somos

e o que podemos preservar. Agora, seu gesto artístico volta-se à Amazônia — não como

paisagem exótica, mas como território sagrado, corpo vivo, ancestral e urgente.

Nesta edição especial da ArtNow Report, dedicada à floresta que pulsa como coração do

planeta, Elson apresenta uma série de obras que homenageiam os povos originários. Figuras

indígenas surgem com força e sutileza de seus desenhos — não como estereótipos, mas

como presenças que afirmam sua existência e exigem escuta. São corpos que carregam o

tempo da mata, a sabedoria dos rios, a resistência que nasce da terra.

Em meio à sofisticação tecnológica do mundo da arte, Elson caminha na contramão. Escolhe

o mínimo — uma caneta esferográfica — e dela extrai o máximo. A delicadeza de sua técnica

contrasta com o peso das narrativas que ela carrega. Com linhas sobrepostas, entrelaçadas

e teimosamente precisas, o artista constrói imagens de impacto visual e profundidade

poética. Cada linha é memória; cada sombra, uma história que recusa o apagamento.

“Se minha caneta pudesse escrever uma palavra sobre a Amazônia”, diz Elson, “seria Respiro.”

E é exatamente isso que suas obras parecem oferecer: um respiro contra a indiferença, um

sopro de consciência em tempos de desmatamento, invasão e exploração. Seus desenhos

não retratam a floresta como cenário, mas como personagem — viva, complexa, pulsante. O

verde profundo das copas, o azul espelhado dos rios, o vermelho terroso das raízes e os tons

das pinturas corporais indígenas compõem, em seu imaginário, um mosaico ancestral.

A escolha de representar indígenas em sua obra não é aleatória. Para Elson, a história mais

urgente a ser contada — e muitas vezes silenciada — é a dos povos que lutam pela própria

terra. Ao desenhá-los, ele não os mitifica. Ele os devolve ao lugar que sempre foi deles: o

centro. O centro da luta, da floresta, da cultura, da vida. E, com isso, sua arte se torna um

gesto político, uma forma de devolver dignidade a quem sempre esteve à margem.

Desenhar para Proteger

Elson Junior

Se cada obra sua é uma narrativa visual, a mensagem que Elson deixa para as

próximas gerações é clara: “A Amazônia não é herança a ser gasta, mas cuidado a

ser passado.” E talvez seja justamente essa sensibilidade que faz de sua arte um ato

de cura. “A arte não cura a natureza sozinha”, afirma, “mas pode abrir frestas no

olhar. Ela nos ensina a ver a floresta como parente — e não como recurso.”

Com sua esferográfica como extensão da alma, Elson Júnior desenha aquilo que

não pode mais ser ignorado. Suas obras são como mapas afetivos: nos guiam pela

memória, pelo afeto e pela resistência. E nos convidam a um exercício cada vez

mais necessário: reaprender a ver — e a cuidar.

Instagram: @elsonjuniorr

Epifania na Floresta

Epifania na Floresta

Epifania na Floresta

Adriana Soares

Adriana Soares

Adriana Soares

Com uma sensibilidade ímpar, Adriana Soares inscreve em sua obra uma poética refinada,

onde o silêncio ancestral da floresta amazônica dialoga com as memórias do Velho Mundo.

Através da leveza da aquarela e da densidade simbólica de suas composições, a artista

traduz, em cor e forma, a complexidade sutil da existência.

Nesta edição especial da ArtNow Report dedicada à Amazônia, Adriana Soares mergulha em

um território afetivo e simbólico. Inspirada pelas fotografias de Sebastião Salgado, ela volta

seus olhos — e seu coração — para as mulheres indígenas, não apenas como habitantes da

floresta, mas como as próprias raízes da história brasileira. O que a tomou nos registros de

Salgado não foi a dor, mas a beleza; uma beleza “humana, ligada à resistência, à dignidade e

à conexão profunda com a terra”. É essa força indomável que guia seu processo, que se

revela um gesto de profunda reconexão. “Mergulhar nesse universo foi, para mim, também

um mergulho nas minhas próprias memórias”, confessa a artista, cuja sensibilidade foi

moldada por “Tina”, como chamava carinhosamente Maria Florentina, a mulher de origem

indígena que foi o esteio de sua família no Mato Grosso. Os olhares que ela pinta não são os

do "outro"; são ecos da dignidade e dos ensinamentos silenciosos que a formaram.

Em suas obras inspiradas na Amazônia, a artista não apenas retrata, mas escuta. Escuta o

som das folhas, decifra o olhar das mulheres silenciadas, evoca a memória dos pássaros

salvos da devastação. Pássaros que, quando criança, viviam com ela em casa — tucanos,

araras, pequenas vidas arrancadas da floresta e acolhidas como parte da família. Esses

elementos não são apenas temas visuais: são símbolos vivos de uma infância entre o

concreto da cidade e o caos sublime da natureza. Sua arte e natureza, portanto, coexistem —

como respiração e poesia.

Conhecida por sua precisão, talvez um eco de sua formação em

odontologia, Adriana não impõe ordem à natureza — ela a respeita.

Se Versailles, com seus jardins meticulosamente planejados, inspira

sua série “Flores Europeias”, a floresta a ensina que há uma beleza

ainda mais potente no improviso do mundo natural. “Se Versailles

me inspira pela disciplina e pelo rigor, a floresta Amazônica me

inspira pela liberdade e força vital”, reflete. Sua arte sensível e

poética nos prova, a cada traço, que “a arte pode habitar tanto na

simetria perfeita quanto na assimetria lírica e única da natureza

selvagem”.

A Amazônia, em sua obra, não é um conceito distante — é um

território emocional. É terra, memória, reverência e talvez, um

silencioso alerta. Adriana Soares transforma paisagens internas em

paisagens visuais. Ao revisitar Salgado e homenagear o feminino

indígena, ela também visita sua própria história, sua origem, sua

missão. Entre cores metálicas e transparências sutis, entre Maria

Antonieta e Maria Florentina, entre jardins franceses e florestas

tropicais, a artista constrói uma ponte delicada entre mundos

aparentemente opostos.

E assim, sua arte não apenas ocupa espaços. Como a própria

Amazônia, ela os transforma.

Instagram: @atelieadrianasoares_

A Onça Vai na Frente

A Onça Vai na Frente

A Onça Vai na Frente

Amanda Medeiros

Amanda Medeiros

Amanda Medeiros

Ela está de costas. Silenciosa. Como se tivesse acabado de

atravessar a mata e, antes de sumir de vez, parasse por um

instante para sentir o mundo atrás de si. A onça pintada de

Amanda Medeiros não precisa nos olhar para nos atravessar.

Sua presença ocupa a tela como um sussurro de poder, um

alerta que respira. Ela não ruge, mas reverbera.

A nossa capa é uma pintura que observa sem olhar, que fala

sem dizer, que pede cuidado mesmo quando impõe respeito.

E Amanda Medeiros, conhecida por representar rostos

humanos com maestria técnica e sensibilidade visceral,

encontra agora nos animais um novo território de expressão.

A artista confessa que o momento mais inesquecível dessa

criação foi mergulhar nos detalhes da pelagem: “Cada ponto

de brilho, cada mancha escura sobre o dourado, tudo me

fazia sentir uma com a figura”. E é exatamente isso que sua

pintura entrega: uma fusão íntima entre a artista e o animal,

como se, por meio da onça, Amanda tivesse encontrado

uma nova maneira de falar sobre si mesma — e sobre o

Brasil.

Na figura da onça pintada, ela viu mais do que um ícone

nacional. Viu a força que carrega a vulnerabilidade, o

símbolo de uma floresta ameaçada e, ao mesmo tempo,

imponente. Viu a contradição entre beleza e risco, entre

soberania e fragilidade. Viu o reflexo da própria Amazônia —

e talvez, de toda a nossa identidade.

ESTA ONÇA

DE COSTAS

NÃO NOS

IGNORA.

ELA NOS

CONFIA O SEU

SILÊNCIO.

Há uma tensão controlada nessa obra. O fundo escuro que envolve a

onça parece expandir seu silêncio. A ausência de olhos voltados ao leitor

desafia o hábito da contemplação frontal. É uma onça que não posa,

não performa — segue em frente. E nesse gesto simples, Amanda

inaugura um novo capítulo em sua trajetória: a arte como caminho, não

como vitrine.