Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Há uma geologia líquida na arte de Dani Fontenelle. Suas telas não são superfícies pintadas,

mas territórios onde a cor escorre, a matéria encontra o próprio caminho e a gravidade se

torna coautora. Ela não representa paisagens; ela orquestra o nascimento de ecossistemas

emocionais. Em seu ateliê, um refúgio conquistado em meio a uma vida plural de leis e

negócios, Dani encontrou a liberdade absoluta na entrega, fazendo da pintura um ato de fé

no imprevisível.

Quando esse universo de fluxo encontra a Amazônia, a ressonância é sísmica. A artista que

"pinta o que escorre" se depara com o maior sistema hídrico do planeta. Mas a conexão é

mais profunda que a mera semelhança visual. É uma sintonia de almas. Dani mesma

confirma o paralelo: seu ritmo criativo, como o dos rios, depende do que acontece em seu

interior. "Quando estou bem por dentro", diz ela, "minha energia pra pintar flui de forma

natural... Quando não estou bem, também não fluo por fora." Sua arte, portanto, não é uma

imagem da floresta; é um afluente de sua própria força vital, correndo em uníssono com os

rios que são as veias do mundo.

Em sua paleta, a Amazônia se revela em sua dualidade essencial. A primeira cor que a

atravessa é, como esperado, uma "imensidão de verde". É a cor da vida que "está sempre

nascendo e renascendo", transbordando em suas telas em composições orgânicas, como

se a própria fotossíntese estivesse acontecendo sob as camadas de tinta. Mas em sua

consciência, outras cores ardem. Perguntada sobre qual tonalidade pode tocar a

consciência coletiva, sua resposta é imediata e cortante: "O laranja e o vermelho, das

queimadas". Em seu trabalho, a beleza não é ingênua. Ela carrega a tensão da floresta que

ao mesmo tempo "sussurra e grita", um lugar místico e espiritual que também é um corpo

em sofrimento.

A Amazônia, para Dani, é também território espiritual. Um espaço onde o visível e o invisível

se entrelaçam. Nas entrelinhas de suas manchas abstratas, há forças que não se veem,

mas que guiam — a ancestralidade, a intuição, o sagrado. “A floresta é misteriosa, mística”,

diz. “Grande parte dela ainda inexplorada.” E suas obras seguem esse princípio: não querem

decifrar, mas preservar o mistério.

O que ela oferece ao observador é atmosfera. É pausa. É presença. A experiência de

contemplar uma obra de Dani Fontenelle é semelhante à de estar na floresta: primeiro o

silêncio, depois a vertigem. Uma vertigem de cor, de intuição, de pertencimento. “Tentamos

explicar demais a Amazônia”, ela afirma. “Talvez devêssemos apenas senti-la.”

A Cor da Consciência

Dani Fontenelle