Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Contemplar uma obra de Germano é uma experiência de silêncio e vertigem.

Começa no detalhe: o olhar mergulha na fotografia de uma casca de árvore e se

perde em suas ranhuras como se percorresse um mapa topográfico da

existência. Cada fissura é uma linha do tempo; cada textura, um registro de

ventos e secas. De repente, o fragmento se expande em universo. O que se vê

não é mais madeira, mas a própria pele da Terra. Essa epifania silenciosa,

encontrada no visível, reverbera em suas pinturas abstratas, onde a mesma

energia se traduz em cor e gesto, revelando que para este artista, a fotografia e

a pintura não são linguagens distintas, mas o diálogo contínuo entre a matéria

que se observa e a emoção que se sente.

Germano é um artista movido por uma escolha fundamental, uma que define

toda a sua poética. Questionado sobre o que mais o atrai, sua resposta revela o

cerne de sua busca: ele prefere o "que resiste" ao que simplesmente floresce. A

flor, com sua exuberância, é a celebração da vida em seu auge. Mas a

resistência — a força silenciosa que se curva sem quebrar, que carrega cicatrizes

como memória — possui uma beleza mais profunda, quase sagrada. Sua arte é

um tributo a essa perseverança. Ele não busca o instante perfeito, mas a

permanência teimosa, a beleza forjada na adversidade, transformando a

dificuldade em uma forma de sabedoria visual.

Na Amazônia, esse olhar se torna sísmico. Para Germano, a imensidão da

floresta não é um espetáculo a ser enquadrado, mas um corpo complexo a ser

escutado. Em sua visão, os rios que cortam o território são, simultaneamente,

"caminhos, cicatrizes e veias abertas". Como caminhos, são as artérias

ancestrais da memória e da cultura. Como cicatrizes, carregam as marcas

dolorosas da exploração e da violência ambiental, um reflexo do que se perde. E

como veias abertas, pulsam com a força vital que sustenta tudo, lembrando-nos

de que a floresta é um organismo vivo, sangrando e nutrindo em um mesmo

fluxo contínuo. Sua obra captura essa trindade indissociável, revelando um

território que é, ao mesmo tempo, santuário e campo de batalha.

Seu processo criativo, portanto, é um ato de entrega. Germano admite sentir

que, muitas vezes, "as imagens o escolhem", como se estivessem à espera do

momento certo para se revelar. É um estado de prontidão, uma sintonia fina

com o mundo que permite reconhecer a transcendência no ordinário. Esse gesto

de fotografar torna-se, então, uma forma de "tocar a memória da Terra", um ato

de comunhão, não de posse. Para ele, a profunda conexão entre a "resistência

das árvores e a persistência da arte" é evidente: ambas são testemunhas que

narram suas histórias em silêncio, uma nos anéis do tronco, a outra nas formas

que atravessam gerações, ambas enraizadas na crença de que vale a pena

permanecer.