Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

No ateliê de Emanuelle Calgaro, o silêncio não é ausência, mas presença. É nesse

espaço de quietude que a alma dos pássaros encontra o papel, não como imagem,

mas como aparição. Sua arte nasce de uma escuta profunda, um lugar onde o traço

do lápis e a suavidade do pastel se tornam a tradução de um voo que começa muito

antes, dentro de si mesma.

Formada nas artes cênicas e imersa na prática terapêutica, Emanuelle não apenas

desenha pássaros; ela os liberta de um estado interior para o mundo visível. Cada ave

é um autorretrato anímico, um mensageiro que carrega em suas penas a jornada de

autoconhecimento da artista. Seus pássaros não são meras representações da fauna,

mas portais. Olhar para eles é ser convidado a uma jornada de transcendência, a

"percorrer horizontes nas asas dos pássaros que desenho", como ela mesma revela.

Na superfície suave do pastel seco e nas transparências etéreas dos aquareláveis,

Emanuelle desenha o voo — mas também o que o antecede: o desejo de liberdade, a

delicadeza do gesto, a urgência do respiro. Cada pena traçada é uma oferenda. Cada

olhar de ave contém uma sabedoria que toca o espírito. Há nelas uma ancestralidade

silvestre, como se a floresta tivesse lhe emprestado sua alma por instantes, para que

ela a devolvesse ao mundo em traços.

Sua arte se torna, então, um ato de preservação da memória. Cada obra é um

testemunho, um "grito silencioso de alerta" que nos lembra da beleza frágil que está

em risco. É o caso de sua conexão com o galo-da-serra. Em sua plumagem vibrante, a

artista não vê apenas cor, mas a própria "interseção entre o divino e o terreno", um

arquétipo da exuberância e da vulnerabilidade amazônica. Retratá-lo é um ato de

reverência, um esforço para materializar em formas a responsabilidade de proteger o

que é extraordinário.

A força curativa da Amazônia encontra um eco direto no propósito de Emanuelle. Sua

arte, que já era um canal de cura individual, se amplifica ao dialogar com a floresta. Se

a Amazônia regenera, a arte de Emanuelle reconecta. Seus pássaros se tornam

mediadores, elos entre o céu e a terra, lembrando-nos que somos parte de um único

organismo vivo. Preservar a floresta é, portanto, preservar um território de cura coletiva.

Se pudesse dar voz a um de seus pássaros amazônicos, o que ele diria? A resposta de

Emanuelle é um poema e um manifesto: "Escutem o silêncio que restou... Meu voo é

liberdade, mas eu só posso voar se vocês protegerem aquilo que sustenta o céu, a

terra e o espírito." Sua arte é esse chamado. É um convite para um voo coletivo em

direção à empatia, uma tentativa de construir, através da beleza, uma ponte

emocional que o discurso racional muitas vezes não consegue erguer.