A jornada de Felipe Cuoco não foi uma mudança de carreira, mas uma conversão do
olhar. Ao trocar a lógica dos números e a urgência dos mercados financeiros pelos
horizontes abertos da natureza, ele não buscou uma nova profissão, mas uma nova forma
de respirar. Sua fotografia é o resultado dessa travessia: um testemunho de quem
aprendeu a encontrar na imensidão selvagem uma ordem sutil, uma estrutura invisível
que só se revela aos que sabem escutar. É a arquitetura do silêncio.
Essa entrega se traduz em suas obras como presença total. Ao abrir mão da lógica do
controle, ele abraçou a lógica da natureza: instável, bela, crua. Sua câmera deixa de ser
ferramenta para se tornar uma extensão do próprio corpo — e da paisagem. O resultado
são imagens de um minimalismo emocional preciso, onde um equilíbrio sutil entre luz e
sombra revela mais do que mostra.
Em suas séries, Felipe nos apresenta dois capítulos dessa mesma busca, dois silêncios de
naturezas distintas, mas de profundidade semelhante. Primeiro, há o silêncio quente do
Pantanal. Em obras premiadas como Majesty of the Pantanal, a quietude não é vazia; ela
pulsa. É um silêncio denso de umidade e calor, preenchido pela vida latente que se
esconde na vegetação. É a calma tensa que antecede o rugido da onça, a pausa
suspensa antes do mergulho do jacaré. Felipe não fotografa o animal, mas a energia que
o cerca; a presença imponente que impõe silêncio ao seu redor.
Depois, viajamos para o silêncio frio da Patagônia. Aqui, a atmosfera muda. Em suas
imagens de glaciares e pampas, o silêncio não é de espera, mas de eternidade. É mineral,
geológico, quase absoluto. As vastas extensões de gelo e rocha, muitas vezes
fotografadas em um preto e branco que destila a paisagem à sua essência, nos
confrontam com a escala do tempo. Não há vida latente, mas a presença esmagadora
de uma natureza que nos lembra de nossa própria efemeridade. É um silêncio que não
pede atenção, mas que impõe introspecção.
Para construir essa arquitetura, a técnica de Felipe Cuoco está inteiramente a serviço da
emoção. A luz é frequentemente a do amanhecer ou do entardecer, difusa e melancólica,
esculpindo as formas sem a dureza do sol a pino. Suas composições, elegantemente
minimalistas, usam vastos espaços negativos — um céu nublado, uma planície de neve —
para dar peso e significado ao sujeito solitário. É uma fotografia que remove o ruído do
mundo para que possamos, enfim, ouvir o que a paisagem tem a dizer.
O Narrador de Instantes
Felipe Cuoco