Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

A arte de Armando não começa com a primeira

pincelada, mas com as três décadas de vivência que a

precederam. Após uma carreira de 32 anos na Polícia

Militar, onde o mundo se revela em sua complexidade

mais crua, ele se entregou à arte. Mas essa não foi uma

simples troca de ferramentas; foi a fusão de dois mundos.

Do rigor da farda, ele trouxe a disciplina e a precisão do

olhar; da arte, absorveu a entrega e a dúvida. Assim

nasceu um realismo simbólico de técnica apurada e

mensagem enigmática, fruto de um homem que passou a

vida observando antes de ousar traduzir em cor e forma.

Quando seu olhar se volta para a Amazônia, ele carrega

essa bagagem inteira. Sua visão da floresta é despida de

romantismo

fácil.

Forjada

na

compreensão

das

intrincadas teias de poder, ela vai além do discurso

ambientalista para tocar nas camadas subterrâneas de

interesses políticos e geopolíticos que habitam o verde

profundo. Mas se há crítica, há também reverência.

Armando não busca capturar um cenário idílico: ele

dialoga com um mundo à parte, um lugar de imensidão,

grandiosidade e mistério.

Na obra criada especialmente para esta edição da

ArtNow Report, a onça é mais do que um animal retratado

— é arquétipo. Representa o poder ancestral da floresta, o

equilíbrio preciso entre força e silêncio, instinto e

presença. Não ataca, não recua: observa. Como se

dissesse, com um olhar lento e seguro: “Estou aqui há

muito mais tempo que você. E estarei depois.” Nesse jogo

de olhos, a Amazônia deixa de ser pano de fundo e se

torna personagem. Mais do que “meio ambiente”, revela-

se entidade — e entidade atenta.

Armando não pinta para exibir virtuosismo, embora sua

técnica impressione. Ele pinta porque precisa traduzir o

que não cabe em palavras. Sua arte é tentativa de

mapear territórios invisíveis, de tocar consciências que

respiram sob folhas e raízes. Para ele, a floresta é

inteligência pulsante, organismo que pensa, sente e

reage.