Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Ela está de costas. Silenciosa. Como se tivesse acabado de

atravessar a mata e, antes de sumir de vez, parasse por um

instante para sentir o mundo atrás de si. A onça pintada de

Amanda Medeiros não precisa nos olhar para nos atravessar.

Sua presença ocupa a tela como um sussurro de poder, um

alerta que respira. Ela não ruge, mas reverbera.

A nossa capa é uma pintura que observa sem olhar, que fala

sem dizer, que pede cuidado mesmo quando impõe respeito.

E Amanda Medeiros, conhecida por representar rostos

humanos com maestria técnica e sensibilidade visceral,

encontra agora nos animais um novo território de expressão.

A artista confessa que o momento mais inesquecível dessa

criação foi mergulhar nos detalhes da pelagem: “Cada ponto

de brilho, cada mancha escura sobre o dourado, tudo me

fazia sentir uma com a figura”. E é exatamente isso que sua

pintura entrega: uma fusão íntima entre a artista e o animal,

como se, por meio da onça, Amanda tivesse encontrado

uma nova maneira de falar sobre si mesma — e sobre o

Brasil.

Na figura da onça pintada, ela viu mais do que um ícone

nacional. Viu a força que carrega a vulnerabilidade, o

símbolo de uma floresta ameaçada e, ao mesmo tempo,

imponente. Viu a contradição entre beleza e risco, entre

soberania e fragilidade. Viu o reflexo da própria Amazônia —

e talvez, de toda a nossa identidade.