Ela está de costas. Silenciosa. Como se tivesse acabado de
atravessar a mata e, antes de sumir de vez, parasse por um
instante para sentir o mundo atrás de si. A onça pintada de
Amanda Medeiros não precisa nos olhar para nos atravessar.
Sua presença ocupa a tela como um sussurro de poder, um
alerta que respira. Ela não ruge, mas reverbera.
A nossa capa é uma pintura que observa sem olhar, que fala
sem dizer, que pede cuidado mesmo quando impõe respeito.
E Amanda Medeiros, conhecida por representar rostos
humanos com maestria técnica e sensibilidade visceral,
encontra agora nos animais um novo território de expressão.
A artista confessa que o momento mais inesquecível dessa
criação foi mergulhar nos detalhes da pelagem: “Cada ponto
de brilho, cada mancha escura sobre o dourado, tudo me
fazia sentir uma com a figura”. E é exatamente isso que sua
pintura entrega: uma fusão íntima entre a artista e o animal,
como se, por meio da onça, Amanda tivesse encontrado
uma nova maneira de falar sobre si mesma — e sobre o
Brasil.
Na figura da onça pintada, ela viu mais do que um ícone
nacional. Viu a força que carrega a vulnerabilidade, o
símbolo de uma floresta ameaçada e, ao mesmo tempo,
imponente. Viu a contradição entre beleza e risco, entre
soberania e fragilidade. Viu o reflexo da própria Amazônia —
e talvez, de toda a nossa identidade.