Há uma biblioteca silenciosa no chão da floresta, onde cada folha caída é um
manuscrito. Suas nervuras são linhas de um texto antigo, suas manchas e cicatrizes,
os registros da passagem do sol, da chuva e do vento. Poucos sabem ler essa
linguagem, mas a artista Bianca Barbosa não apenas a decifra: ela a responde. Em
seu trabalho, ela se revela uma arquivista da floresta, uma tradutora de memórias
que, com a delicadeza de um ritual, nos ensina a escutar.
Na arte de Bianca Barbosa, a agulha não perfura, ela dialoga. O gesto de bordar sobre
a fragilidade de uma folha seca se transforma em um ato de escuta profunda, quase
sagrado. É, como ela mesma descreve, "costurar memórias na pele da natureza",
honrando o que o ciclo natural deixou para trás. Trabalhando com o tempo e não
contra ele, Bianca transforma o que parecia um fim em um novo fôlego, uma
ressurreição poética onde cada ponto é uma sílaba de reverência.
Essa capacidade de ler a essência das coisas encontra uma ressonância poderosa em
sua jornada. Vinda da radiologia, onde a imagem revela a anatomia humana, Bianca
não abandonou seu olhar clínico; ela o expandiu. Deixou de buscar anomalias para
celebrar a perfeição da vida. Percebeu, com uma clareza avassaladora, que as
ramificações dos pulmões ecoam os galhos das árvores e os veios das folhas
espelham nossas próprias veias. Seu trabalho é a prova visual desta conexão
inquebrável: somos parte da natureza, assim como ela é parte de nós.