A arte de Simone Decanini nos lembra de uma verdade fundamental: antes de ser um
território geográfico, a Amazônia é um território da imaginação. Em seu universo, a
paisagem é um estado de espírito, e a aquarela, a linguagem do invisível. Ao se
debruçar sobre a floresta, ela deliberadamente se recusa a ser uma documentarista,
optando pela liberdade de uma sonhadora. Para ela, a Amazônia é, antes de tudo, uma
"paisagem imaginada", um ecossistema interior que a nutre com "luz, cores, formas,
texturas, vida".
Sua técnica é o espelho perfeito dessa filosofia. A fluidez da aquarela, o "deixar fluir,
sempre de dentro pra fora", torna-se o veículo para essa conexão intuitiva. A água no
papel ecoa a água dos rios; as formas orgânicas que emergem das manchas parecem
seguir o ritmo de crescimento da própria mata. Sua paleta de verdes, azuis e terrosos
não busca a cor literal de uma folha ou de um rio, mas o matiz da sensação, a
impressão emocional que a floresta deixa na alma.
Nesse processo, o silêncio se torna protagonista. Questionada sobre o silêncio da
Amazônia, Simone o descreve como o estado meditativo que precede sua criação. Suas
obras nascem dessa quietude, e é a partir dela que a artista responde à necessidade
urgente de "gritar" pela preservação. Em sua arte, o silêncio não é omissão, mas
reverência. É um convite para que nós mesmos possamos ouvir o som dos pássaros e
dos insetos, para que possamos sentir a pulsação da vida. Em sua delicadeza, o silêncio
se torna o alerta mais potente.
A esperança, em sua obra, toma a forma de sementes. "As sementes são elementos
fortes no meu trabalho", revela a artista, "pois elas representam o que planto na arte
para florescer nas gerações futuras". Sua pintura não é apenas um registro do presente
ameaçado, mas um ato de semeadura, um manifesto de fé na continuidade. Cada
obra é um legado, uma cápsula de beleza destinada a um tempo que ainda virá.
Simone nos convida a reencontrar o "simples", a conexão com a "mãe terra". Ao nos
apresentar a alma imaginada da floresta, suas aquarelas não nos mostram apenas a
beleza da Amazônia; elas nos lembram da floresta que habita em nós, e da urgência de
cuidarmos de ambas.
O Som da Cor
Simone Decanini