Talvez não seja coincidência que Luiz Andrai tenha nascido em um lugar chamado
Éden, em São João de Meriti (RJ). Sua obra inteira parece ser a anatomia de uma
busca por esse jardim primordial, não como uma paisagem perdida, mas como
uma frequência vibrante, uma energia que se manifesta em cor e forma. Ele não
pinta a natureza; ele orquestra sua sintaxe, traduzindo a exuberância indomada do
trópico para uma linguagem que é, ao mesmo tempo, visceral e altamente
sofisticada.
Sua gramática visual foi construída em uma linhagem nobre da arte brasileira. A
herança do gesto manual, a intimidade com a matéria, veio de sua mãe artesã. O
rigor da forma, da UFRJ. Mas foi no diálogo com mestres como Beatriz Milhazes que
ele parece ter herdado não um estilo, mas uma ética: a compreensão da cor como
estrutura, como ritmo, como pensamento. Em sua obra, a cor não descreve, ela é.
Suas telas são ecossistemas visuais. Nelas, trava-se um duelo fascinante entre a
linha curva, orgânica, que remete ao emaranhado de cipós e à sensualidade dos
corpos, e a linha angular, que impõe uma ordem, uma arquitetura ao caos. Suas
cores não são decorativas; são a própria emanação da vida, o calor da luz filtrada,
a vibração de uma asa em pleno voo. Contemplar sua obra é sentir a atmosfera se
adensar, é ser imerso na sensação de um ambiente onde a vida explode em sua
forma mais irredutível.
Luiz Andrai é um tradutor de sensações. Sua longa trajetória, marcada por uma
pesquisa consistente e uma presença que se estende de salões de prestígio, onde
conquistou medalhas de ouro e prata, a exposições em espaços institucionais
como o Centro Cultural dos Correios, é o testamento de uma vida dedicada a
decifrar o código cromático de uma terra ensolarada. Ele não nos oferece a
imagem de um lugar. Ele nos entrega sua energia, sua temperatura, sua alma. Ele
nos devolve o jardim.
A Cor de Éden
Luiz Andrai
Instagram: @luizandrai