Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Talvez não seja coincidência que Luiz Andrai tenha nascido em um lugar chamado

Éden, em São João de Meriti (RJ). Sua obra inteira parece ser a anatomia de uma

busca por esse jardim primordial, não como uma paisagem perdida, mas como

uma frequência vibrante, uma energia que se manifesta em cor e forma. Ele não

pinta a natureza; ele orquestra sua sintaxe, traduzindo a exuberância indomada do

trópico para uma linguagem que é, ao mesmo tempo, visceral e altamente

sofisticada.

Sua gramática visual foi construída em uma linhagem nobre da arte brasileira. A

herança do gesto manual, a intimidade com a matéria, veio de sua mãe artesã. O

rigor da forma, da UFRJ. Mas foi no diálogo com mestres como Beatriz Milhazes que

ele parece ter herdado não um estilo, mas uma ética: a compreensão da cor como

estrutura, como ritmo, como pensamento. Em sua obra, a cor não descreve, ela é.

Suas telas são ecossistemas visuais. Nelas, trava-se um duelo fascinante entre a

linha curva, orgânica, que remete ao emaranhado de cipós e à sensualidade dos

corpos, e a linha angular, que impõe uma ordem, uma arquitetura ao caos. Suas

cores não são decorativas; são a própria emanação da vida, o calor da luz filtrada,

a vibração de uma asa em pleno voo. Contemplar sua obra é sentir a atmosfera se

adensar, é ser imerso na sensação de um ambiente onde a vida explode em sua

forma mais irredutível.

Luiz Andrai é um tradutor de sensações. Sua longa trajetória, marcada por uma

pesquisa consistente e uma presença que se estende de salões de prestígio, onde

conquistou medalhas de ouro e prata, a exposições em espaços institucionais

como o Centro Cultural dos Correios, é o testamento de uma vida dedicada a

decifrar o código cromático de uma terra ensolarada. Ele não nos oferece a

imagem de um lugar. Ele nos entrega sua energia, sua temperatura, sua alma. Ele

nos devolve o jardim.

A Cor de Éden

Luiz Andrai

Instagram: @luizandrai