Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

À primeira vista, a arte de Meiry Lucy é um antídoto para tempos sombrios. Suas telas

vibram com uma geometria otimista, cores puras e uma sensibilidade naïf que evoca

uma alegria desarmante. Mas por trás dessa fachada de leveza, pulsa uma das mais

urgentes missões da arte contemporânea. Sua obra não é uma fuga da realidade brutal

da devastação amazônica; é a sua mais sofisticada e radical resposta.

Autodidata, nascida no Rio de Janeiro e radicada em Teresópolis, Meiry construiu uma

trajetória singular ao unir duas linguagens que raramente coexistem com tamanha

harmonia: o naïf e o geométrico. Sua união singular entre o naïf e o geométrico cria um

lugar onde o encantamento visual se torna veículo para mensagens urgentes.

Ao abordar a Amazônia, Meiry Lucy faz da arte um manifesto silencioso, porém potente.

Suas cores vibrantes despertam no espectador algo ancestral — como se, ao

contemplar sua obra, o corpo reconhecesse a mata antes mesmo da mente. Talvez por

isso a artista escolha os pássaros como seus companheiros simbólicos, uma predileção

que revela tudo: quando questionada sobre o que pintaria se pudesse viver um mês na

floresta, não hesita: “Pintaria pássaros”. Para ela, eles são o símbolo do que ainda pode

voar, do que ainda pode ser salvo.

Se a floresta pudesse ouvir, Meiry falaria com versos e cores: “Nos teus rios quero

navegar / O teu ar quero respirar / A tua beleza quero apreciar.” Há poesia no que ela

diz, mas há também urgência. Sua arte, embora encantadora, não ignora a ferida; pelo

contrário, ela a traduz. “Não queiram os meus bens — queiram o meu bem”, clama a

Amazônia em sua voz, e a artista ecoa esse grito com delicadeza e firmeza, como quem

semeia esperança em solo exausto.

Sua produção, portanto, não busca apenas embelezar paredes — ela quer tocar mentes e

provocar reflexão. É uma arte que sorri, mas que também desafia; que seduz, mas que

também convoca. Ao transformar sua indignação em formas harmônicas, Meiry Lucy nos

lembra que o belo também pode ser subversivo e que é possível, sim, reencantar o

mundo natural mesmo diante da devastação. Sua obra é a materialização de uma

crença: "protegendo a Amazônia, estaremos salvando o mundo."

A Alegria como Ato de Resistência

Meiry Lucy