NA ESCOLHA DAS
TÉCNICAS, RAFAELLA
PERMITE QUE CADA
MATERIAL CONTE UMA
PARTE DESSA
HISTÓRIA.
A leveza da aquarela dá corpo ao efêmero; o óleo aprofunda e dá densidade; a
cerâmica, quando surge, traz o gesto tátil do barro — um retorno físico à terra. Em
todas essas linguagens, uma busca por harmonia: um instante de suspensão em
meio ao ruído do mundo.
Ao se aproximar de uma de suas obras, a sensação é de atravessar um portal. Não
há pressa, não há ruído. Apenas uma paisagem onírica que oferece ao espectador
um raro presente: a chance de silenciar e respirar. Nesse espaço, somos
convidados a enxergar o que a pressa não permite ver: que tudo — a floresta, o
cosmos, o feminino, o corpo — está intrinsecamente ligado.
Talvez seja essa a maior contribuição de Rafaella Portella para esta edição
especial da Amazônia: nos lembrar de que a arte pode ser um lugar de retorno.
Um lugar onde o olhar encontra abrigo e, ao mesmo tempo, se expande para algo
maior do que nós.
Em tempos em que a floresta pede urgência, suas pinturas pedem presença. E, ao
nos fazer parar, talvez nos devolvam aquilo que esquecemos: o sentido de
pertencimento.