A arte de Patrícia Penteado convida o espectador a mais do que ver: a sentir. Suas obras
são espelhos que refletem a intimidade e a complexidade da condição humana. Elas
exigem partilha, convivência, contemplação. E especialmente nesta série dedicada à
Amazônia mítica, Patrícia reafirma a capacidade da arte de ser ponte — entre o tempo e
o mito, o corpo e a natureza, o olhar e a alma.
A arte de Patrícia Penteado recusa rótulos fáceis, movendo-se com a mesma fluidez
entre o retrato, o floral e a paisagem abstrata. Essa versatilidade não revela indecisão,
mas a convicção de uma artista que compreende que diferentes emoções exigem
diferentes linguagens. Ao longo de mais de duas décadas de trajetória, Patrícia
construiu uma poética visual que tem na figura humana seu eixo central — um
repertório de corpos que revelam sentimentos, silenciam angústias e sussurram
verdades profundas.
Nascida em Bauru, cidade do estado de São Paulo, no Brasil, é a partir dali que ela
projeta um olhar sensível e refinado sobre o mundo, unindo o gesto íntimo da criação à
potência simbólica da representação. Seu domínio técnico — especialmente na pintura
a óleo sobre tela, sua linguagem principal — é notável. Como retratista, Patrícia não se
limita à aparência: busca a essência de quem (ou do que) representa. Em cada rosto
pintado, há uma tentativa de captar algo fugidio — a alma, o instante, a memória.
Para a edição especial da ArtNow Report — dedicada à Amazônia —, Patrícia mergulha
no universo simbólico das lendas indígenas, criando obras que traduzem em imagem a
sabedoria ancestral dos povos da floresta. Em “Lenda da Vitória-Régia”, ela reconta a
história de Naia, a bela índia que se apaixona pela lua e, ao lançar-se nas águas, é
transformada em flor. Com sensibilidade e lirismo, a artista compõe uma cena onde a
transformação é mágica e melancólica. A lua, a água e o corpo se fundem numa única
atmosfera de encantamento.
Já em “Lenda da Iara”, Patrícia evoca o mito da sereia amazônica com igual intensidade.
Iara, envolta pelas águas e banhada pelo luar, é representada como símbolo da força e
da beleza feminina. Seu olhar parece atravessar a tela, trazendo à tona a ambiguidade
entre o desejo e o perigo, a sedução e a resistência. É um retrato mítico que
homenageia a oralidade, a força das mulheres indígenas e a complexa relação entre o
ser humano e a natureza.
Em suas composições, o equilíbrio entre harmonia e ruptura se faz sentir na justaposição
de superfícies densas com linhas etéreas. A técnica — óleo, acrílica, encáustica, grafite —
é usada como alquimia. Cada camada revela uma emoção, uma paisagem interna, um
fragmento de biografia. E em todos os casos, a figura humana persiste como
protagonista: seja nas expressões sutis de um retrato, na metamorfose de uma índia em
flor ou na força silenciosa de uma sereia.