Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Seu primeiro impulso criativo diante da Amazônia não foi um

desenho nem uma fotografia, mas uma sensação. O verde

profundo, os sons vivos das águas, o chamado dos pássaros e

animais — tudo isso a envolveu em reverência. Era como se a

arte já estivesse ali, pronta, apenas esperando para ser

revelada em cores e histórias.

Regina traduz esse território com um olhar realista que vai além

da precisão: ele respira emoção. Sua paleta não imita a

natureza, mas a sente. Ao optar por uma gama limitada de

cores, extrai delas nuances escondidas, luzes oblíquas, texturas

que narram, sem palavras, a complexidade vibrante da floresta.

Cada folha, cada reflexo d’água, cada olhar animal, é tratado

como um segredo revelado.

Mas talvez seja no olhar dos animais que sua arte alcance sua

expressão mais sensível. É ali, nas pupilas do mico-leão-

dourado — símbolo pessoal que escolheu para representar a

Amazônia — que ela descobre a ponte entre o detalhe técnico e

a alma do bioma. Com sua exuberância dourada e delicadeza

rara, o animal aparece em suas telas não só como espécie

ameaçada, mas como metáfora da própria arte: um ser frágil e

valente, que carrega consigo luz, silêncio e legado.

Esse silêncio, aliás, é parte vital do processo criativo da artista.

Não como ausência de som, mas como escuta ativa. No ateliê,

entre pinceladas calmas e atmosferas suspensas, Regina cria

um espaço que se afasta do ruído externo para estabelecer,

com a floresta, uma conversa de igual para igual. Uma sinfonia

entre o sussurro da selva e o silêncio da criação.

A geometria da floresta, para ela, não reside em fórmulas

exatas, mas no entrelaçar das nervuras, na dança dos galhos,

nos labirintos de água. É uma ordem que aceita o caos. Uma

beleza que se esconde no que é imperfeito, assimétrico,

orgânico. E é justamente esse tipo de ordem selvagem que seu

olhar treinado captura com rara sensibilidade.

Enquanto pintava a Amazônia, Regina descobriu uma floresta

dentro de si. E talvez seja essa a maior lição de sua obra:

"Aprendi que dentro de mim também existe uma floresta:

intensa, profunda e cheia de contrastes." E é essa honestidade

que reverbera em suas telas. Elas nos fazem uma pergunta

silenciosa e poderosa: estamos prontos para ver o mundo com

a mesma atenção, com o mesmo respeito? O realismo de

Regina Picoli, em sua expressão mais madura, nos lembra que o

ato mais radical de preservação começa com um ato de

verdadeira observação.

Instagram: @reginapicoli.art