Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Não busque em Elaine Pessoa a paisagem como um cartão-postal. Em seu universo, a

floresta não é cenário, mas entidade: respira, pulsa e guarda em si as memórias do

tempo. Para a edição especial Amazônia da ArtNow Report, mergulhamos em “Imagens

Contadas em Contas”, projeto que revela a artista como uma alquimista de geografias

sensíveis, tradutora de mundos visíveis e invisíveis.

No coração da Amazônia, nas margens do Tapajós, a artista ergueu sua câmera como

quem ergue um ouvido. Não buscava o registro, mas a escuta. As fotografias, feitas sob a

sombra imensa da Samaúma — árvore-mãe e guardiã de mundos —, tornaram-se

mapas de sensações. Ali, a lente captura mais do que a imagem: recolhe vestígios do

invisível, camadas de história e um rumor ancestral que parece estar no ar.

Paulistana de origem, com formação em Farmácia Industrial, Administração de Produção

e pós-graduação em Fotografia, Elaine Pessoa construiu uma trajetória singular em torno

da imagem e da experimentação estética. Seu trabalho transita entre fotografia, gravura,

instalação e livros de artista, sempre em diálogo com memória, natureza, tempo e

espiritualidade. Representada pela Galeria Mario Cohen, suas obras já circularam por

museus e coleções no Brasil e no exterior, consolidando um percurso que combina

pesquisa rigorosa e sensibilidade rara.

As contas, pequenas e cintilantes, surgem como fios que costuram esse território invisível.

Herdeiras de um passado de trocas e imposições, são também símbolos de resistência e

espiritualidade. Em suas instalações, não são ornamento, são presença. Cada uma delas,

ao lado das imagens, parece guardar segredos encantados, cantos de rituais, águas que

correm e cores que sangram.

Elaine não busca o documental, mas o revelado. Sua obra se aproxima daquilo que

permanece oculto — uma atmosfera que une natureza e cultura. Fotografias, gravuras e

instalações se transformam em um território imersivo, onde a arte deixa de ser registro

para se tornar rito.

Há um diálogo silencioso entre peso e leveza: entre a densidade das fotografias e a

suspensão das miçangas no espaço expositivo. Os azuis e brancos evocam rios e ventos;

o vermelho, a seiva e o sangue; o dourado, a luz que arde no interior da floresta. E, no

entrelaço desses elementos, nasce uma paisagem mais sensorial do que visível — um

espaço para que o olhar desacelere e se torne corpo.

Contas que Contam a Floresta

Elaine Pessoa