Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

A arte de Marcus Frade nasce de um paradoxo produtivo: a colisão entre a lógica do

design e a anarquia do instinto. Com formação em Desenho Industrial, sua mente foi

treinada para projetar a ordem. No entanto, em sua obra, ele subverte essa formação

para um propósito mais visceral: ele não projeta objetos, mas sim a sintaxe para o

caos, a gramática visual para uma emoção primordial. Em suas mãos, o

abstracionismo lírico deixa de ser um refúgio introspectivo para se tornar um campo

de batalha.

Nascido no subúrbio carioca, onde a intensidade das cores de uma cidade viva e

desigual contrasta com as ausências da paisagem natural, a arte de Marcus Frade

brota desse atrito primordial. Formado em Desenho Industrial pela Escola de Belas

Artes da UFRJ, ele carrega um olhar técnico apurado, mas é na intuição que encontra

sua verdadeira linguagem: uma fisiologia da crise. As cores que explodem na tela não

são meramente estéticas; são a febre de um bioma em colapso ou, inversamente, a

vitalidade desafiadora da vida que insiste em pulsar. As espessas e sinuosas linhas

pretas são a caligrafia de uma emergência — veias que transportam tanto a vida

quanto o veneno, rios sufocados pelo mercúrio, cicatrizes na pele da terra. Suas formas

não são abstratas; são células que se contorcem, raízes que buscam água em solo

envenenado.

Essa linguagem de denúncia atinge seu ápice na obra-manifesto "Amazônia Legal?". O

título, com sua interrogação mordaz, é a primeira provocação. A tela se impõe como

uma ferida exposta: Marcus transcende a representação ao incorporar a bucha

vegetal (Luffa aegyptiaca) diretamente na tela, inserindo um fragmento do corpo da

vítima na própria cena do crime. A genialidade do protesto se completa na própria

forma do objeto: o "desalinho da tela com a moldura" é a tese da obra materializada, a

metáfora visual do desequilíbrio imposto pelo homem. O objeto de arte está, ele

mesmo, quebrado, deslocado. É a resposta visceral à sua própria inquietação sobre o

que não pode ser esquecido: "os rios, os igarapés"

O impacto da Amazônia em sua obra não é paisagístico; é ético. Sua arte transforma a

inquietação em forma, fazendo da tela um campo de batalha. A floresta o inspira por

sua potência, mas o confronta com sua destruição sistemática, e é neste ponto que a

arte se torna sua ferramenta de preservação: não pela contemplação, mas pelo

incômodo.

Marcus Frade

"Amazônia Legal?"