Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Os rostos de Gui Prada não apenas olham — eles questionam. Surgem do silêncio do

papel como se fossem fragmentos de um planeta em colapso, partes de uma

consciência maior que se recusa a desaparecer. Neles, não há pose. Há denúncia,

espanto, memória e humanidade. Em pinceladas rápidas, riscadas com o gesto urgente

de quem entende o valor do agora, o artista imprime expressões que despertam — e por

isso, tocam profundamente.

Natural de Limeira, interior de São Paulo, Gui construiu uma trajetória marcada por

atravessamentos — entre a publicidade e a arte, entre o rigor técnico e a liberdade do

instinto, entre a cidade e a mata. Publicitário de formação, com mais de duas décadas

dedicadas à criação gráfica, ele reencontrou na arte seu território vital. A gravura, o

grafite, a pintura e o desenho o acompanharam desde cedo, mas foi a retomada da

produção artística em 2005 que acendeu definitivamente sua linguagem visual — uma

linguagem que ousa, provoca e busca sentido.

Foi nesse processo que conheceu Iberê Camargo — e a experiência não passou ilesa.

Encontrar-se com um dos maiores nomes da arte brasileira do século XX, em seu ateliê

em Porto Alegre, foi um ponto de inflexão. Gui lembra: “Algumas conversas eram

tranquilas; em outras, ele trabalhava freneticamente por horas. Mas havia sempre

verdade.” Esse convívio informal com Iberê, expandiu seu olhar sobre o gesto e a urgência.

E essa urgência, hoje, ecoa em cada traço seu.

A Amazônia, para ele, não é paisagem — é veia aberta do país, organismo em risco.

“Representar e defender este organismo é tarefa de muita responsabilidade e urgência”,

afirma. Seu olhar não romantiza a floresta: reconhece nela uma entidade viva, ameaçada

pela cobiça de alguns e indiferença de muitos. “Até que ponto meu ritmo de vida e

consumo estão contribuindo para a degradação da Amazônia?”, provoca. A cor vermelha,

que deveria evocar o urucum, hoje é manchada por sangue — metáfora visual que

permeia sua paleta.

Gui, com sua habitual franqueza, resume: “Meu trabalho é fácil, comum. Retratos. Gente.

Expressões. Mas olhe de frente, olho no olho. Todas têm algo a dizer.” E é nesse convite que

reside o cerne de sua obra. Não se trata apenas de ver — é preciso dialogar. Com os

rostos, com a floresta, com a ausência. Tudo está ali, esperando por um olhar desperto.

A arte de Gui Prada não consola — desperta. Não enfeita — provoca. É gesto e é

consciência.

Em

tempos

de

urgência

ambiental,

desumanização

crescente

apagamento das culturas originárias, sua obra se impõe como um gesto de presença.

“Um gesto, arrisca um risco, e outro: des-construção. Sujeira à beira do caos. Sugestão de

liberdade.” É dessa tensão que nasce sua estética. E é nessa fricção que sua arte se

inscreve: como espelho, alerta e semente.