Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Nas mãos de Elson Júnior, a caneta esferográfica — objeto comum do cotidiano — torna-se

ferramenta de denúncia, reverência e reconexão. Seu traço firme e íntimo revela mundos que

muitas vezes insistimos em não ver. É com ela que ele escreve histórias silenciadas,

redesenha rostos apagados pela história e reconstrói pontes entre o que fomos, o que somos

e o que podemos preservar. Agora, seu gesto artístico volta-se à Amazônia — não como

paisagem exótica, mas como território sagrado, corpo vivo, ancestral e urgente.

Nesta edição especial da ArtNow Report, dedicada à floresta que pulsa como coração do

planeta, Elson apresenta uma série de obras que homenageiam os povos originários. Figuras

indígenas surgem com força e sutileza de seus desenhos — não como estereótipos, mas

como presenças que afirmam sua existência e exigem escuta. São corpos que carregam o

tempo da mata, a sabedoria dos rios, a resistência que nasce da terra.

Em meio à sofisticação tecnológica do mundo da arte, Elson caminha na contramão. Escolhe

o mínimo — uma caneta esferográfica — e dela extrai o máximo. A delicadeza de sua técnica

contrasta com o peso das narrativas que ela carrega. Com linhas sobrepostas, entrelaçadas

e teimosamente precisas, o artista constrói imagens de impacto visual e profundidade

poética. Cada linha é memória; cada sombra, uma história que recusa o apagamento.

“Se minha caneta pudesse escrever uma palavra sobre a Amazônia”, diz Elson, “seria Respiro.”

E é exatamente isso que suas obras parecem oferecer: um respiro contra a indiferença, um

sopro de consciência em tempos de desmatamento, invasão e exploração. Seus desenhos

não retratam a floresta como cenário, mas como personagem — viva, complexa, pulsante. O

verde profundo das copas, o azul espelhado dos rios, o vermelho terroso das raízes e os tons

das pinturas corporais indígenas compõem, em seu imaginário, um mosaico ancestral.

A escolha de representar indígenas em sua obra não é aleatória. Para Elson, a história mais

urgente a ser contada — e muitas vezes silenciada — é a dos povos que lutam pela própria

terra. Ao desenhá-los, ele não os mitifica. Ele os devolve ao lugar que sempre foi deles: o

centro. O centro da luta, da floresta, da cultura, da vida. E, com isso, sua arte se torna um

gesto político, uma forma de devolver dignidade a quem sempre esteve à margem.

Desenhar para Proteger

Elson Junior