Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

A obra de Neuza Petti opera como um diagnóstico poético. Nela, a mente de uma

arquiteta, lapidada na lógica da estrutura e do propósito, utiliza a alma de uma

aquarelista para elaborar o memorial descritivo de um ecocídio. Sua jornada artística,

que a levou de mestres da forma como Wesley Duke Lee ao domínio da cor com

Ubirajara Ribeiro, encontra na Amazônia não uma paisagem a ser retratada, mas um

corpo a ser auscultado, uma estrutura viva cuja fragilidade é exposta com uma

precisão implacável.

Para essa tarefa, sua escolha de material é uma declaração de princípios. A aquarela,

para ela, é a técnica da verdade irrefutável. “Ela não permite enganos”, afirma a artista,

“mostra tudo, de uma forma verdadeira, transparente como a sua essência”. Essa

transparência não é meramente estética; ela se torna um bioindicador poético. Assim

como certas espécies indicam a saúde de um rio, a aquarela de Neuza, com sua

natureza inalterável, revela a saúde do bioma. Cada mancha é um documento, cada

sobreposição, o testemunho ocular de uma história que não pode ser apagada.

A água que se espalha sobre o papel reflete a fragilidade da floresta diante do fogo, a

delicadeza do verde que resiste, a urgência da preservação. A Amazônia, para Neuza, é

vida, memória e futuro — um organismo que respira e pede nossa atenção.

Seus trabalhos não são apenas vistos, são sentidos. É preciso perceber o fluxo da cor,

decifrar a intensidade da luz, captar o silêncio das aguadas. Cada tonalidade, cada

transparência, carrega a memória da floresta e o eco das águas, convidando o

espectador a refletir sobre a responsabilidade humana frente à natureza.

A arte de Neuza Petti é, acima de tudo, um diálogo entre arquitetura e vida, entre

técnica e emoção, entre rigor e liberdade. Ela não se limita a reproduzir formas: ela

transforma observação em experiência, gesto em consciência, cor em resistência. O

espectador é chamado a mergulhar nesse mundo de nuances, onde a contemplação

se torna ação e a sensibilidade se converte em cuidado.

Em suas aquarelas, a Amazônia não é um pano de fundo, mas protagonista. Cada traço

é um chamado à atenção, cada nuance de verde uma lembrança de que proteger a

floresta é proteger a própria vida. Neuza nos lembra, com delicadeza e intensidade, que

a arte não é apenas uma forma de existir, mas de resistir e transformar.

Instagram: @neuzanazarpetti