A obra de Neuza Petti opera como um diagnóstico poético. Nela, a mente de uma
arquiteta, lapidada na lógica da estrutura e do propósito, utiliza a alma de uma
aquarelista para elaborar o memorial descritivo de um ecocídio. Sua jornada artística,
que a levou de mestres da forma como Wesley Duke Lee ao domínio da cor com
Ubirajara Ribeiro, encontra na Amazônia não uma paisagem a ser retratada, mas um
corpo a ser auscultado, uma estrutura viva cuja fragilidade é exposta com uma
precisão implacável.
Para essa tarefa, sua escolha de material é uma declaração de princípios. A aquarela,
para ela, é a técnica da verdade irrefutável. “Ela não permite enganos”, afirma a artista,
“mostra tudo, de uma forma verdadeira, transparente como a sua essência”. Essa
transparência não é meramente estética; ela se torna um bioindicador poético. Assim
como certas espécies indicam a saúde de um rio, a aquarela de Neuza, com sua
natureza inalterável, revela a saúde do bioma. Cada mancha é um documento, cada
sobreposição, o testemunho ocular de uma história que não pode ser apagada.
A água que se espalha sobre o papel reflete a fragilidade da floresta diante do fogo, a
delicadeza do verde que resiste, a urgência da preservação. A Amazônia, para Neuza, é
vida, memória e futuro — um organismo que respira e pede nossa atenção.
Seus trabalhos não são apenas vistos, são sentidos. É preciso perceber o fluxo da cor,
decifrar a intensidade da luz, captar o silêncio das aguadas. Cada tonalidade, cada
transparência, carrega a memória da floresta e o eco das águas, convidando o
espectador a refletir sobre a responsabilidade humana frente à natureza.
A arte de Neuza Petti é, acima de tudo, um diálogo entre arquitetura e vida, entre
técnica e emoção, entre rigor e liberdade. Ela não se limita a reproduzir formas: ela
transforma observação em experiência, gesto em consciência, cor em resistência. O
espectador é chamado a mergulhar nesse mundo de nuances, onde a contemplação
se torna ação e a sensibilidade se converte em cuidado.
Em suas aquarelas, a Amazônia não é um pano de fundo, mas protagonista. Cada traço
é um chamado à atenção, cada nuance de verde uma lembrança de que proteger a
floresta é proteger a própria vida. Neuza nos lembra, com delicadeza e intensidade, que
a arte não é apenas uma forma de existir, mas de resistir e transformar.
Instagram: @neuzanazarpetti