Diante das obras de Mônica Krüger, a primeira sensação é a de estar diante de algo vivo.
Suas superfícies têxteis não se contentam em ser vistas: elas pedem aproximação,
convidam ao toque, quase exalam um perfume ancestral. Cada tecido, marcado por
pigmentos naturais e cera, parece conter um pedaço de tempo preservado à mão.
O batik e o ecoprint — técnicas que a artista domina com rigor e liberdade — tornam-se,
em suas mãos, muito mais que processos. São modos de escuta. A cera de abelha,
derretida e guiada como tinta, abre caminhos por onde a cor respira. Folhas, flores e
fibras impressas nos tecidos transformam-se em memórias fossilizadas: vestígios que
guardam a presença do que um dia foi vento, sombra e seiva.
Em sua obra, a matéria e o sentido se entrelaçam. Cada camada de cor é gesto e
lembrança. O Espírito Santo, seu território de origem, está presente, mas vai além: a obra
fala de paisagens invisíveis que embalam histórias internas, entre passado e presente,
natureza e cultura.
Essa profunda conexão com os ciclos da matéria não é um acaso. A arte de Mônica é
inseparável de seu chão e de sua vocação. Nascida em Vitória e criada em Nova Venécia,
no Espírito Santo, seu trabalho é um testemunho do lugar e das memórias que carrega.
Para além do ateliê, dedica-se também à educação, como supervisora escolar,
semeando sensibilidade e pensamento criativo em novas gerações. Sua produção não é
um refúgio, mas a extensão natural de quem ensina a ver, sentir e reconectar-se às
raízes.
Durante o processo criativo, as cores — ora sutis, ora vibrantes — surgem como se fossem
respirações da terra. Ocres evocam luz filtrada pelas copas, verdes sugerem sombra
fresca e pigmentos densos trazem orvalho. As formas se constroem de modo orgânico,
guiadas por uma lógica que lembra a própria floresta — plural, fluida, imprevisível.
Paralelamente ao ateliê e à pesquisa, Mônica idealizou e apresenta o Canal Universo
Criativo — espaço audiovisual que integra arte, educação, memória e sustentabilidade.
Nele, compartilha processos, entrevistas com artistas, tutoriais, oficinas e roteiros
pedagógicos, valorizando saberes locais e expandindo o acesso ao fazer artístico. Ali, a
força de suas tramas encontra eco num gesto de escuta que vai além do físico e alcança
quem busca na arte um espaço de transformação.
Contemplar o trabalho de Mônica Krüger é reconhecer que o tecido, assim como a
floresta, respira. E que em cada dobra de cor, em cada impressão de folha, existe um
chamado discreto: olhar devagar, sentir mais fundo e perceber que a verdadeira
paisagem se revela naquilo que resiste — silenciosa e bela.