Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Diante das obras de Mônica Krüger, a primeira sensação é a de estar diante de algo vivo.

Suas superfícies têxteis não se contentam em ser vistas: elas pedem aproximação,

convidam ao toque, quase exalam um perfume ancestral. Cada tecido, marcado por

pigmentos naturais e cera, parece conter um pedaço de tempo preservado à mão.

O batik e o ecoprint — técnicas que a artista domina com rigor e liberdade — tornam-se,

em suas mãos, muito mais que processos. São modos de escuta. A cera de abelha,

derretida e guiada como tinta, abre caminhos por onde a cor respira. Folhas, flores e

fibras impressas nos tecidos transformam-se em memórias fossilizadas: vestígios que

guardam a presença do que um dia foi vento, sombra e seiva.

Em sua obra, a matéria e o sentido se entrelaçam. Cada camada de cor é gesto e

lembrança. O Espírito Santo, seu território de origem, está presente, mas vai além: a obra

fala de paisagens invisíveis que embalam histórias internas, entre passado e presente,

natureza e cultura.

Essa profunda conexão com os ciclos da matéria não é um acaso. A arte de Mônica é

inseparável de seu chão e de sua vocação. Nascida em Vitória e criada em Nova Venécia,

no Espírito Santo, seu trabalho é um testemunho do lugar e das memórias que carrega.

Para além do ateliê, dedica-se também à educação, como supervisora escolar,

semeando sensibilidade e pensamento criativo em novas gerações. Sua produção não é

um refúgio, mas a extensão natural de quem ensina a ver, sentir e reconectar-se às

raízes.

Durante o processo criativo, as cores — ora sutis, ora vibrantes — surgem como se fossem

respirações da terra. Ocres evocam luz filtrada pelas copas, verdes sugerem sombra

fresca e pigmentos densos trazem orvalho. As formas se constroem de modo orgânico,

guiadas por uma lógica que lembra a própria floresta — plural, fluida, imprevisível.

Paralelamente ao ateliê e à pesquisa, Mônica idealizou e apresenta o Canal Universo

Criativo — espaço audiovisual que integra arte, educação, memória e sustentabilidade.

Nele, compartilha processos, entrevistas com artistas, tutoriais, oficinas e roteiros

pedagógicos, valorizando saberes locais e expandindo o acesso ao fazer artístico. Ali, a

força de suas tramas encontra eco num gesto de escuta que vai além do físico e alcança

quem busca na arte um espaço de transformação.

Contemplar o trabalho de Mônica Krüger é reconhecer que o tecido, assim como a

floresta, respira. E que em cada dobra de cor, em cada impressão de folha, existe um

chamado discreto: olhar devagar, sentir mais fundo e perceber que a verdadeira

paisagem se revela naquilo que resiste — silenciosa e bela.