Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Ao mergulhar no universo pictórico de Dayana Trindade, somos convidados a percorrer

trilhas sensoriais, onde o verde da floresta pulsa em matizes infinitos e o cheiro úmido das

raízes se entrelaça com a luz líquida dos rios. A Amazônia emana de suas telas não apenas

como paisagem, mas como corpo vivente, espírito materno e espelho vibrátil da força

feminina brasileira.

Há uma floresta dentro de Dayana — não uma selva de metáforas, mas um organismo de

sentidos entranhados em cada fibra de sua arte. Como ela mesma revela, a diversidade

de folhas, flores, raízes, água e criaturas reconstrói em pinceladas a complexidade dos

nossos próprios corpos: “assim como nossos corpos físicos são integrados por órgãos

vitais, que nos proporcionam experimentar os sentidos da vida e da natureza.” Seus

quadros são biomas afetivos, territórios de memória e sonho.

Sua técnica nasce do afeto e do fascínio pelo simples. As pedras de rio, primeiros suportes

de sua expressão, simbolizam caminhos, a energia ancestral ancorada no chão. Dayana

transforma aquilo que o olhar apressado ignora em matéria poética: um seixo, uma folha

caindo em espiral, a dança fugaz de um peixe saltando. Cada gesto, cada camada de

tinta, carrega a vocação silenciosa do cuidado — como no toque gentil da enfermagem,

sua outra arte, que a artista define como “a arte de cuidar.” Ao pintar a natureza, Dayana

prolonga, em formas e matizes, uma ética do cuidado consigo, com o outro, com o mundo.

No cerne de sua criação emerge ainda a figura da mulher: mães ribeirinhas, pescadoras,

anciãs indígenas, jovens gestantes. Não se trata de idealizar, mas de traduzir o cotidiano,

as histórias vividas, a ancestralidade do ventre fértil e resistente: “A arte de amamentar, de

gerir e de parir é algo que me impressiona. As figuras femininas são a construção de

sonhos intensos, revelados por cores e contornos suaves.” Cada pintura é rito e celebração

— da infância à maternidade, do gesto diário à existência extraordinária.

A Amazônia de Dayana é ventre e semente: potência e ameaça, força e fragilidade. Ao

pintar onças de olhar agudo, cobertas de cores insólitas, ela retrata o paradoxo do bioma

— beleza em risco, fertilidade ameaçada, diversidade como riqueza e escudo. “A Amazônia

é uma força imponente e misteriosa... remédio da mente para quem se permite sentir.”

Suas telas são convite à contemplação e ao encantamento, mas também manifesto

sensível pelos cuidados que o paraíso exige.