Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Há pinturas que se oferecem ao olhar. As de Isabel Cristina, no entanto, pedem silêncio

antes do encontro. É nesse intervalo que a tela começa a falar — e o que ela diz não é

simples de traduzir: são camadas de cor, vibração e gesto que criam um território que só

existe quando o olho se deixa levar.

Seu universo nasce do abstrato, mas não se limita a ele. Entre campos de cor, linhas e

formas geométricas, há sempre um movimento que parece orgânico, quase instintivo. É

como se, em vez de planejar a imagem, ela permitisse que a superfície respirasse e

encontrasse sua própria maneira de existir. Cada tom pulsa, cada textura procura um

lugar onde repousar.

Nascida em Lajeado, no Rio Grande do Sul, e criada em Arroio do Meio, Isabel Cristina

descobriu cedo o prazer de desenhar e pintar. Mais tarde, a vida a levou para Porto Alegre

e depois casou e foi morar em Erechim, onde mantém seu ateliê. Formada em

Administração de Empresas, foi na pintura — iniciada como passatempo há mais de dez

anos — que encontrou sua expressão mais autêntica. Autodidata, construiu um percurso

próprio, detalhista e intuitivo, em que a abstração e a geometria convivem em liberdade.

O olhar atento percebe que nada é literal. As cores, ora intensas, ora rarefeitas, são corpos

vivos que se encontram e se repelem, instaurando uma tensão que não se resolve. Nesse

território pictórico, a pintura se torna experiência: não é sobre o que se vê, é sobre o que se

sente.

Há um parentesco entre sua pesquisa e a ideia de um território vivo. Não porque ela o

represente, mas porque suas obras compartilham esse caráter vital e plural: a abundância

de ritmos, a multiplicidade de direções, o diálogo constante entre caos e harmonia.

Diante de um trabalho de Isabel Cristina, percebe-se que a abstração deixa de ser

distante para se tornar íntima. As cores se aproximam como vozes, e os gestos, como

mapas secretos. Sua arte não pede apenas para ser sentida: pede para ser

compreendida. Há, em cada tela, uma espécie de arquitetura do sentimento, em que

emoção e estrutura coexistem. Talvez seja essa a sua grande beleza: transformar o olhar

em travessia, onde cada um descobre, à sua maneira, a sua própria paisagem.

Instagram: @isa_arteabstrata