Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Há uma floresta que vive dentro do vidro. Ela não é visível de

imediato. Está ali, espalhada em fragmentos de luz, em

contornos de silêncio, em desenhos que parecem sussurrar

uma prece ancestral. Ju Chaves a conhece bem. E é com mãos

de ofício e sensibilidade que ela a reconstrói — não como se

fosse possível devolvê-la intacta, mas como se fosse urgente

honrar sua dignidade.

Sua escolha de matéria é uma declaração de princípios. “O

vidro e a floresta são semelhantes”, ela diz. “Ambos são frágeis

e resistentes. Sustentáveis. Cíclicos. Transpiram vida, mistério e

renovação.” É nesse espelho poético que sua arte se reflete. Sua

transparência nos permite ver através — ver o tempo, o ciclo,

mas também a ameaça que vive sob o espectro da quebra. Em

suas mãos, o vidro não é rígido; ele vibra como as árvores,

como os rios. Como se cada vitral mosaico fosse uma oferenda,

um altar de luz para a dignidade do invisível.

É em sua série-manifesto, "Biomas do Brasil", que essa

metodologia atinge sua mais potente expressão. A obra nasce

como

um

"chamado

à

consciência",

um

ato

que

é,

simultaneamente, denúncia e reverência. O desafio, segundo a

artista, foi escolher elementos que representassem a força da

Amazônia, e ela a encontrou na onça-pintada. Em seu vitral

mosaico, a onça não é apenas um animal de beleza fascinante;

ela é o arquétipo da "sabedoria e proteção", a "guardiã"

espiritual que personifica a "existência harmoniosa".

Talvez, no fundo, toda a obra de Ju Chaves seja uma forma de

oração. Uma tentativa de devolver à floresta um pouco da fé

que ela nos oferece — mesmo mutilada, mesmo ferida, ela

insiste em florescer. É por isso que, para a artista, não há

separação

entre

criar

e

proteger,

entre

estética

responsabilidade. O objetivo final é um só: “Se a floresta

pudesse ver minha obra, eu gostaria que ela sentisse

dignidade.”

E sentimos. Ao contemplar sua arte, sentimos.

A floresta respira. O vidro pulsa. A Amazônia brilha.

E o mundo, por instantes, se torna mais inteiro.

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