Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Poucos meses após a arte de Guilherme Otero vibrar em nossas páginas

com a nostalgia pop de seus carros clássicos, o artista retorna, não com

uma linguagem transformada, mas com um novo foco revelado. Otero,

que sempre foi um fotógrafo experiente, escolheu primeiro nos mostrar

sua faceta de pintor. Hoje, ele aprofunda o diálogo. Se antes ele dava

alma a objetos inanimados, agora ele busca a alma dos lugares mais

vivos e silenciosos do planeta. Sua fotografia, mais do que uma nova

expressão, é a outra face de uma mesma busca: a de um artista que, no

silêncio, aprendeu a escutar o mundo com o olhar.

Para Otero, que convive com a surdez profunda desde a infância, o

silêncio não é ausência, mas presença. É um estado de percepção

aguçada que lhe permite sentir o mundo de uma forma que o ruído

muitas vezes nos impede. Sua fotografia nasce dessa condição. Sem a

distração do som, seu olhar se torna a principal ferramenta de conexão,

capaz de "ouvir" a narrativa silenciosa de uma paisagem, a vibração de

um campo de gelo na Patagônia, a respiração de um animal selvagem.

Suas imagens não são para serem vistas, mas para serem sentidas,

escutadas com os olhos.

Essa escuta se torna ainda mais profunda porque é fruto de uma entrega

física. Sua alma de explorador, que o levou a atravessar mais de 28

países em expedições e cicloviagens, é inseparável de sua arte. A câmera

não é um instrumento passivo que registra à distância; é uma

testemunha de sua imersão, do suor, do cansaço e do diálogo direto com

o território. Cada fotografia carrega em si a poeira da estrada, o frio do

vento, a solidão do horizonte. É uma arte forjada na experiência.

É fascinante observar como sua formação em Design e Branding informa

sua visão da natureza. O olhar treinado para a composição, a linha e o

impacto visual encontra na paisagem uma arquitetura sublime. Ele não

apenas captura a beleza, ele a "constrói" na imagem, com um rigor que

transforma o caos da natureza em uma composição poderosa,

equilibrada e emocionalmente ressonante.

No fim, a arte de Guilherme Otero, seja na pintura ou na fotografia,

permanece sendo sua linguagem universal. Se antes eram as cores que

gritavam, agora é a luz que sussurra. Suas fotografias nos ensinam a ver

o mundo de forma diferente, nos convidando a silenciar nosso próprio

ruído interno para, enfim, escutar a beleza profunda e silenciosa que o

mundo, pacientemente, tem a nos dizer.

Instagram: @theartofotero

Instagram: @oterophotography