Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Ao nos aproximarmos das telas de Denise Dumont para essa edição especial Amazônia

da ArtNow Report, somos convidados a atravessar a própria espessura do tempo e da

floresta. O verde, aqui, não é apenas cor: é substância viva, atmosfera suspensa, uma

respiração transplantada da grande mata para o tecido da tela. No gesto da artista, a

Amazônia pulsa — não como imagem ilustrativa, mas como presença incontornável,

um chamado silencioso à imersão sensorial.

As composições de Denise Dumont são portais para estados de espírito amparados no

abstrato. As manchas, as densidades, o diálogo entre matizes de verde — ora musgo

úmido, ora clareiras luminosas — sugerem múltiplas paisagens interiores e uma

Amazônia sentida, mais do que descrita. Cada camada revela a arquitetura invisível da

floresta: um jogo de luz filtrada, de silêncios pesados e súbitos deslumbramentos. Sua

técnica, embebida em gestualidade e matéria, desdobra texturas que evocam troncos,

neblinas e a vertigem do horizonte vegetal, como se suas pinceladas fossem ventos que

dobram a copa das árvores.

O verde amazônico em sua obra recente adensa-se também como metáfora: é força

ancestral, alento e resistência. Ao olharmos suas telas, somos conduzidos a um estado

de suspensão, embebidos nas nuances, naquilo que transborda do visível para o

intangível. Denise constrói atmosferas que instalam uma experiência sinestésica, capaz

de provocar lembranças de cheiro de terra molhada, de água, de sombra e de sol em

movimento.

Denise compreende como poucos o poder da cor. Em seu universo, ela não é acessório,

mas matéria emocional. O verde, em especial, torna-se uma metáfora viva. É cura. É

ciclo. É continuidade. É o intervalo entre o que foi e o que ainda pode florescer. E, ao

mesmo tempo, é uma denúncia silenciosa — um lembrete de que o belo também

precisa ser protegido.

Essa potência estética, no entanto, não se encerra na tela. Denise Dumont transpõe

para a pintura o poder transformador da arte nos ambientes que habitamos: seu

trabalho não é ornamento, mas alma que vibra, confere identidade e cria atmosferas

únicas. Abrir-se ao verde de Denise é, pois, abrir-se à possibilidade do espanto e da

conexão, àquilo que, nas palavras da própria artista, “dá alma aos espaços”.

Instagram: @denisedumont

www.denisedumont.net