Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Com uma trajetória que se estende por continentes e corações, Ursula é uma ponte

entre geografias e sensibilidades. Da Suíça ao Brasil, da Índia ao Japão, a artista

construiu uma linguagem própria, feita de contrastes e delicadezas. Ao longo dos anos,

integrou a filosofia oriental, o pensamento ocidental e uma intuição quase xamânica

sobre a arte como elo entre mundos. E quando fala da Amazônia, sua voz ganha outro

tom — de reverência.

Como essa artista, tão atenta às pulsações do mundo, se conecta à Amazônia? Para

Ursula, a floresta não é um lugar: é uma força pulsante, uma paleta viva, um estado de

espírito. Os tons que a atraem — o preto da terra fértil, o café dos galhos secos, o

vermelho do sangue ancestral, o amarelo da luz filtrada e o verde esmeralda das copas

úmidas — não são apenas cores. São memórias vivas. “Esses tons evocam tanto a força

e a vitalidade quanto a simplicidade e a profundidade da terra”, afirma. E sua obra

expressa exatamente isso: uma dança entre o simples e o denso, o leve e o vital.

Nas telas e instalações que assina sob o nome Biko, Ursula traduz paisagens interiores e

exteriores com gestos que lembram mapas emocionais. Seus traços e composições

visuais carregam a fluidez das águas amazônicas e a precisão meditativa da Ikebana,

tradição japonesa da qual é mestre há décadas. Em suas instalações — realizadas em

São Paulo, Brasília, Índia e Suíça — a artista trabalha com folhagens secas, bambu e

resíduos naturais, criando espaços que convidam à contemplação e ao despertar

ambiental.

Mais do que estética, sua arte é ética. “Cada instalação planta uma semente de

esperança e mudança”, diz. Para ela, a arte é ferramenta de mobilização, um

instrumento para refletir e agir. A sustentabilidade não é um conceito distante, mas um

compromisso com as gerações que virão. Por isso, sua prática artística está enraizada

na escuta das comunidades, no respeito à sabedoria tradicional e na tentativa sincera

de criar diálogos entre culturas e biomas.

A Floresta também respira

em Silêncio

Ursula Altenbach