A arte de Ana Cris Ben nasce de um olhar triplo. Antes de se entregar aos
pincéis, sua jornada a levou aos corredores de hospitais, com a precisão
da Farmácia, e aos labirintos da lei, com o rigor do Direito. Essa travessia
não foi um desvio, mas um acúmulo de lentes. Onde a ciência lhe
ensinou sobre a fragilidade do corpo e a lei, sobre a luta pela dignidade,
a arte emergiu como a linguagem capaz de traduzir o que fórmulas e
sentenças não abarcam: a pulsação do invisível.
Quando esse olhar se volta para a Amazônia, ele não vê apenas uma
paisagem, mas um organismo complexo. A farmacêutica reconhece um
corpo vivo e vulnerável, que adoece. A advogada enxerga a urgência na
defesa dos direitos fundamentais, não apenas dos povos que ali
habitam, mas da própria terra como entidade. E a artista busca uma
resposta para a "crueldade da realidade que as estatísticas não
revelam".
Sua resposta, no entanto, não é um grito, mas um sussurro. Em um
mundo de denúncias estridentes, a arte de Ana Cris Ben acolhe e convida
à escuta. Diante da crise amazônica, que muitas vezes clama por
urgência, sua abordagem não é de confronto, mas de reparo. Ela não
pinta a ferida exposta, mas o "abrigo" que precisamos construir por
causa dela, tecendo pertencimento com cores e traduzindo esperança
com formas delicadas.
O foco de sua obra não é a floresta em si, mas a "teia invisível que nos
conecta" a ela. Suas telas não são retratos, são "refúgios", "pequenas ilhas
de cor e emoção" onde podemos descansar os olhos e reacender a alma.
Ela nos lembra que há força no sensível e dignidade no simples, mesmo
diante da monumentalidade da crise. Em sua arte, a Amazônia se torna
um espelho para o vasto oceano das emoções humanas, clamando por
acolhimento.
No fim, a arte de Ana Cris Ben cumpre sua premissa: "não precisa ser
perfeita — basta ser verdadeira". E a verdade que suas pinturas nos
oferecem sobre a Amazônia não é a dos dados ou das leis, mas a da
nossa inegável conexão e responsabilidade. É um lembrete de que, em
cada ser que habita este planeta, há uma beleza e uma dignidade que
merecem ser protegidas.