O vermelho de Gianella Riephoff sempre foi uma declaração de vida. Em suas
telas, ele é a paixão que pulsa, a energia que se derrama, um abraço
caloroso traduzido em pigmento. Sua assinatura é a celebração. Mas o que
acontece quando essa força, quase um sinônimo da própria artista, é
confrontada por um verde absoluto, uma imensidão que precede a história?
O que acontece quando o abraço precisa se tornar um grito?
O verde, símbolo maior da mata, não chega suave. Surge denso, profundo,
multiplicando-se em camadas, como o som que toma conta do corpo antes
de se tornar pensamento. É nesse cenário que o vermelho — a marca visceral
da artista — invade a composição, não mais como celebração, mas como
um rio de alerta. É o vermelho da vida, do sangue e da resistência. Para
Gianella, a cor não é escolhida; ela surge como uma urgência. E se o
vermelho sempre foi seu grito íntimo, na Amazônia ele se tornou coletivo. “O
meu vermelho aqui é furioso. Ele abraça folhas e animais. É uma força que
tenta chamar a atenção aos problemas atuais de desmatamento e falta de
respeito com a natureza”, confessa.
O que nasce em sua tela é uma floresta que não se oferece ao olhar passivo.
Gianella nos força a perceber — não com os ouvidos, mas com a pele. Sua
pintura é som de folhas, de bichos, de ausências. É um silêncio que não é
quietude, mas o eco de espécies desaparecidas. “É um silêncio que grita. Um
silêncio de fogo, de chamas, de extinção. E a cada camada de tinta, ele
aumenta”, diz.