Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

O vermelho de Gianella Riephoff sempre foi uma declaração de vida. Em suas

telas, ele é a paixão que pulsa, a energia que se derrama, um abraço

caloroso traduzido em pigmento. Sua assinatura é a celebração. Mas o que

acontece quando essa força, quase um sinônimo da própria artista, é

confrontada por um verde absoluto, uma imensidão que precede a história?

O que acontece quando o abraço precisa se tornar um grito?

O verde, símbolo maior da mata, não chega suave. Surge denso, profundo,

multiplicando-se em camadas, como o som que toma conta do corpo antes

de se tornar pensamento. É nesse cenário que o vermelho — a marca visceral

da artista — invade a composição, não mais como celebração, mas como

um rio de alerta. É o vermelho da vida, do sangue e da resistência. Para

Gianella, a cor não é escolhida; ela surge como uma urgência. E se o

vermelho sempre foi seu grito íntimo, na Amazônia ele se tornou coletivo. “O

meu vermelho aqui é furioso. Ele abraça folhas e animais. É uma força que

tenta chamar a atenção aos problemas atuais de desmatamento e falta de

respeito com a natureza”, confessa.

O que nasce em sua tela é uma floresta que não se oferece ao olhar passivo.

Gianella nos força a perceber — não com os ouvidos, mas com a pele. Sua

pintura é som de folhas, de bichos, de ausências. É um silêncio que não é

quietude, mas o eco de espécies desaparecidas. “É um silêncio que grita. Um

silêncio de fogo, de chamas, de extinção. E a cada camada de tinta, ele

aumenta”, diz.