Acredito que toda arte é, por si só, um ato político, desde que, em sua busca por
encontros e descobertas, o artista se mantenha atento às causas que provocam
as sensações surgidas do olhar, do ver e do sentir, fruto de um tempo acumulado
de maneira crítica e reflexiva sobre o mundo ao seu redor. Nesse processo, talvez
seja possível atribuir novos significados de presença e pertencimento,
conectando passado e presente em direção a um futuro moldado pelos sonhos e
delírios criativos que a arte permite representar.
Com essa premissa, sempre enxerguei o mundo como uma imensa colagem,
sentindo-me, ao criar, como alguém que pinta enquanto escreve.
Todo trabalho que realizei ou realizo pode, a qualquer momento, sair da
mapoteca para ser contextualizado e levado ao cavalete, pois acredito que o
cavalete é uma metáfora de apoio para desviarmos a atenção do lugar que, hoje,
ele verdadeiramente ocupa. Grandes mudanças acontecem quando atentamos
à origem dos problemas.
Esta série dá continuidade a outras duas, Somos todos memória e Memória em
movimento, apresentadas nas edições anteriores. Verticalidades em alicerces de
memórias surgiu como o primeiro trabalho estruturado em dois planos: o
primeiro, uma impressão fotográfica em voil a partir de uma imagem que fiz de
São Paulo; o segundo, uma obra em técnica mista construída a partir dessa
mesma fotografia e de outras captadas na cidade. Sobrepostos, esses planos
formam uma única peça, origem da série que se expandiu com os trabalhos
Demolições, Migrações e Telhados em movimento.
A pesquisa e o propósito das séries têm sido fruto de uma observação contínua
de vários acontecimentos e manifestações reincidentes que, de formas e
maneiras diversas, atentam contra o direito à vida do homem e do planeta, à
liberdade de ir, vir e ser presença, com o apagamento da história de lugar e de
memórias afetivas e ancestrais, por organizações com soberanias de poder.