Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Acredito que toda arte é, por si só, um ato político, desde que, em sua busca por

encontros e descobertas, o artista se mantenha atento às causas que provocam

as sensações surgidas do olhar, do ver e do sentir, fruto de um tempo acumulado

de maneira crítica e reflexiva sobre o mundo ao seu redor. Nesse processo, talvez

seja possível atribuir novos significados de presença e pertencimento,

conectando passado e presente em direção a um futuro moldado pelos sonhos e

delírios criativos que a arte permite representar.

Com essa premissa, sempre enxerguei o mundo como uma imensa colagem,

sentindo-me, ao criar, como alguém que pinta enquanto escreve.

Todo trabalho que realizei ou realizo pode, a qualquer momento, sair da

mapoteca para ser contextualizado e levado ao cavalete, pois acredito que o

cavalete é uma metáfora de apoio para desviarmos a atenção do lugar que, hoje,

ele verdadeiramente ocupa. Grandes mudanças acontecem quando atentamos

à origem dos problemas.

Esta série dá continuidade a outras duas, Somos todos memória e Memória em

movimento, apresentadas nas edições anteriores. Verticalidades em alicerces de

memórias surgiu como o primeiro trabalho estruturado em dois planos: o

primeiro, uma impressão fotográfica em voil a partir de uma imagem que fiz de

São Paulo; o segundo, uma obra em técnica mista construída a partir dessa

mesma fotografia e de outras captadas na cidade. Sobrepostos, esses planos

formam uma única peça, origem da série que se expandiu com os trabalhos

Demolições, Migrações e Telhados em movimento.

A pesquisa e o propósito das séries têm sido fruto de uma observação contínua

de vários acontecimentos e manifestações reincidentes que, de formas e

maneiras diversas, atentam contra o direito à vida do homem e do planeta, à

liberdade de ir, vir e ser presença, com o apagamento da história de lugar e de

memórias afetivas e ancestrais, por organizações com soberanias de poder.