Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

A voz artística de Zilah Garcia nasce de uma rara tecelagem de

mundos. A artista, que teve seu primeiro contato com a matéria

no ateliê de porcelana da mãe, atravessou uma sólida carreira

no universo têxtil, onde a precisão da costura e a linguagem

das texturas se tornaram sua segunda pele. O chamado da

arte, no entanto, a levou a uma nova imersão: estudou afresco

em Firenze, aprofundou-se na aquarela, e encontrou na Escola

de Artes Visuais do Parque Lage — epicentro da arte

contemporânea carioca — o terreno para a maturação de sua

pesquisa conceitual. É nessa intersecção, entre o gesto herdado

e a investigação intelectual, que sua arte encontra sua

potência singular.

A arte de Zilah não representa a paisagem; ela apresenta seus

vestígios. Em seu ateliê, a terra não é usada como pigmento,

mas como corpo, e o plástico não é apenas um material, mas

uma testemunha. Sua prática é uma forma de arqueologia do

nosso tempo, uma escavação paciente do que a sociedade

descarta — tanto o lixo material que sufoca o planeta quanto a

ansiedade psicológica que essa realidade nos impõe.

O plástico, em suas mãos, transcende sua condição de resíduo

para se tornar linguagem. Zilah subverte a lógica do consumo

ao transformar o efêmero em permanência: a sacola, projetada

para o uso imediato mas condenada a uma quase eternidade

no ambiente, é resgatada e inscrita no tempo da arte. Cada

fragmento carrega uma história. Ao refletir sobre os chinelos

que encontra, com a marca do pisar ainda impressa, ela não vê

apenas lixo, mas "perguntas em forma de matéria". Quem era

essa pessoa? Como ela voltou para casa? Pensou no impacto

de seu gesto? Sua arte, portanto, é um ato de escuta dessas

narrativas silenciosas.