A voz artística de Zilah Garcia nasce de uma rara tecelagem de
mundos. A artista, que teve seu primeiro contato com a matéria
no ateliê de porcelana da mãe, atravessou uma sólida carreira
no universo têxtil, onde a precisão da costura e a linguagem
das texturas se tornaram sua segunda pele. O chamado da
arte, no entanto, a levou a uma nova imersão: estudou afresco
em Firenze, aprofundou-se na aquarela, e encontrou na Escola
de Artes Visuais do Parque Lage — epicentro da arte
contemporânea carioca — o terreno para a maturação de sua
pesquisa conceitual. É nessa intersecção, entre o gesto herdado
e a investigação intelectual, que sua arte encontra sua
potência singular.
A arte de Zilah não representa a paisagem; ela apresenta seus
vestígios. Em seu ateliê, a terra não é usada como pigmento,
mas como corpo, e o plástico não é apenas um material, mas
uma testemunha. Sua prática é uma forma de arqueologia do
nosso tempo, uma escavação paciente do que a sociedade
descarta — tanto o lixo material que sufoca o planeta quanto a
ansiedade psicológica que essa realidade nos impõe.
O plástico, em suas mãos, transcende sua condição de resíduo
para se tornar linguagem. Zilah subverte a lógica do consumo
ao transformar o efêmero em permanência: a sacola, projetada
para o uso imediato mas condenada a uma quase eternidade
no ambiente, é resgatada e inscrita no tempo da arte. Cada
fragmento carrega uma história. Ao refletir sobre os chinelos
que encontra, com a marca do pisar ainda impressa, ela não vê
apenas lixo, mas "perguntas em forma de matéria". Quem era
essa pessoa? Como ela voltou para casa? Pensou no impacto
de seu gesto? Sua arte, portanto, é um ato de escuta dessas
narrativas silenciosas.