Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Diante da vastidão silenciosa da crise amazônica, a artista Adriana Chamma recusa a

denúncia literal e mergulha na força ancestral. Sua nova e poderosa escultura em

cerâmica, "O Grito do Renascimento", é uma obra que nasce como um organismo vivo, um

grito silencioso contra a amnésia das árvores derrubadas.

A peça se desdobra em um encontro simbiótico, uma fusão orgânica entre o humano e o

vegetal, onde as formas são, ao mesmo tempo, "raízes que buscam nutrir e tentáculos que

anseiam por explorar". No coração desta narrativa visual, a artista dá à luz dois guardiões

para o nosso tempo: Kairós, emergindo das raízes arrancadas, simboliza a chance de um

recomeço que brota da própria cicatriz. Ananke, coroada por ramificações, personifica a

força inevitável da vida e a memória que não pode ser apagada. Juntos, eles nos lembram

que o destino da Terra e o nosso estão interligados.

Essa profundidade conceitual é a marca de uma artista cujo olhar foi treinado para unir

estética e funcionalidade. Adriana é uma designer e ceramista paulista que, após se

formar em Desenho Industrial pela FAAP, aprofundou seus conhecimentos em arte e moda

na Universidade Central Saint Martins, em Londres. Em 2025 participou da Semana de

design de Milão com suas obras. Seja em suas luminárias inspiradas na zona Abissal ou

em suas peças utilitárias, Adriana cria obras que nascem de escuta, afeto e intenção. Uma

cerâmica que não é só objeto: é resposta. Presença. Gesto.

A Cerâmica como Gênese

Adriana Chamma

A escolha da cerâmica como veículo para essa gênese não

é acidental. O barro, a "matéria primordial", é o único

material capaz de contar essa história. O esmalte em tons

terrosos e verdes conecta a escultura diretamente à pele da

floresta. É a materialização da pergunta que a própria obra

nos faz: onde termina o corpo e começa a paisagem?