Na arte de Pedro Prandini, o gesto não obedece ao pincel,
mas à própria urgência da matéria. É a tinta que se
movimenta. É o ar que a empurra. É a gravidade que assina.
Pedro não pinta com ferramentas tradicionais — ele guia
forças. Sua obra não nasce de um esboço: ela brota, vaza,
escorre. E, como os rios da Amazônia, encontra seus próprios
caminhos.
A série que o artista dedica aos quatro elementos – ar, fogo,
terra e água – não é apenas uma escolha estética. É um rito
de evocação. Em cada peça, um diálogo silencioso com a
natureza, como se sua arte respirasse com o planeta. Na
edição especial da ArtNow Report, dedicada à Amazônia, a
presença dessa série ecoa como um sussurro da floresta:
urgente, denso e pulsante.
A tinta escorre, as cores se encontram, bolhas emergem
como se a superfície respirasse. Mais que um pintor, Pedro se
revela um alquimista que orquestra o caos, transformando o
derramamento em paisagens que ecoam não o mundo
visível, mas as forças elementares que o governam.
Quando essa linguagem do fluxo encontra a Amazônia, a
ressonância é sísmica. Longe de tentar representar o bioma,
Pedro ousou simular seus processos, mergulhando no
desafio de traduzir sua complexidade através dos quatro
elementos. Nos elementos Terra e Água, sua técnica
encontra um eco imediato. O derramamento evoca a fluidez
onipresente dos rios, as artérias que definem o território,
enquanto as texturas que emergem do caos controlado
parecem
extraídas
diretamente
da
riqueza
do
solo
amazônico, com suas camadas de vida e decomposição.
O elemento Fogo, no entanto, o coloca diante de um silêncio
respeitoso. O artista admite que associá-lo à Amazônia é um
"trabalho em construção", uma busca por uma linguagem
que possa honrar uma realidade tão dolorosa. Em sua
pesquisa com a madeira queimada e o uso do vermelho,
não há uma resposta pronta, mas sim a vulnerabilidade
honesta de quem sabe que certas feridas não podem ser
simplesmente pintadas, precisam ser compreendidas em
sua essência.