Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Na arte de Pedro Prandini, o gesto não obedece ao pincel,

mas à própria urgência da matéria. É a tinta que se

movimenta. É o ar que a empurra. É a gravidade que assina.

Pedro não pinta com ferramentas tradicionais — ele guia

forças. Sua obra não nasce de um esboço: ela brota, vaza,

escorre. E, como os rios da Amazônia, encontra seus próprios

caminhos.

A série que o artista dedica aos quatro elementos – ar, fogo,

terra e água – não é apenas uma escolha estética. É um rito

de evocação. Em cada peça, um diálogo silencioso com a

natureza, como se sua arte respirasse com o planeta. Na

edição especial da ArtNow Report, dedicada à Amazônia, a

presença dessa série ecoa como um sussurro da floresta:

urgente, denso e pulsante.

A tinta escorre, as cores se encontram, bolhas emergem

como se a superfície respirasse. Mais que um pintor, Pedro se

revela um alquimista que orquestra o caos, transformando o

derramamento em paisagens que ecoam não o mundo

visível, mas as forças elementares que o governam.

Quando essa linguagem do fluxo encontra a Amazônia, a

ressonância é sísmica. Longe de tentar representar o bioma,

Pedro ousou simular seus processos, mergulhando no

desafio de traduzir sua complexidade através dos quatro

elementos. Nos elementos Terra e Água, sua técnica

encontra um eco imediato. O derramamento evoca a fluidez

onipresente dos rios, as artérias que definem o território,

enquanto as texturas que emergem do caos controlado

parecem

extraídas

diretamente

da

riqueza

do

solo

amazônico, com suas camadas de vida e decomposição.

O elemento Fogo, no entanto, o coloca diante de um silêncio

respeitoso. O artista admite que associá-lo à Amazônia é um

"trabalho em construção", uma busca por uma linguagem

que possa honrar uma realidade tão dolorosa. Em sua

pesquisa com a madeira queimada e o uso do vermelho,

não há uma resposta pronta, mas sim a vulnerabilidade

honesta de quem sabe que certas feridas não podem ser

simplesmente pintadas, precisam ser compreendidas em

sua essência.