Cada objeto tem um silêncio. Um tempo. Uma memória. Quando
os encontro — em feiras, gavetas esquecidas, ou heranças do
acaso — escuto seus sussurros. Montar uma assemblage é como
remontar um quebra-cabeça do invisível: pedaços de outras
vidas que, unidos, passam a contar uma nova história — minha,
sua, nossa.
Não comecei como artista. Antes, estive imerso em códigos e
números. Mas foi no caos poético do Rio, entre as esquinas
boêmias e os mercados de antiguidade, que minha alma
entendeu: eu era feito de fragmentos. A arte chegou como um
reencontro com o tempo perdido. Hoje, minha prática é quase
arqueológica. Vasculho o mundo com olhos famintos por história,
e cada peça que escolho carrega um passado — e revela um
presente.
O assemblage, para mim, é mais que técnica: é uma linguagem
de afeto e resistência. Um modo de dizer o indizível. Ao unir o
bruto ao delicado, o esquecido ao simbólico, eu não apenas
componho uma obra — eu componho uma lembrança.
Charles Barreto