Charles Barreto - Portifólio

Cada objeto tem um silêncio. Um tempo. Uma memória. Quando

os encontro — em feiras, gavetas esquecidas, ou heranças do

acaso — escuto seus sussurros. Montar uma assemblage é como

remontar um quebra-cabeça do invisível: pedaços de outras

vidas que, unidos, passam a contar uma nova história — minha,

sua, nossa.

Não comecei como artista. Antes, estive imerso em códigos e

números. Mas foi no caos poético do Rio, entre as esquinas

boêmias e os mercados de antiguidade, que minha alma

entendeu: eu era feito de fragmentos. A arte chegou como um

reencontro com o tempo perdido. Hoje, minha prática é quase

arqueológica. Vasculho o mundo com olhos famintos por história,

e cada peça que escolho carrega um passado — e revela um

presente.

O assemblage, para mim, é mais que técnica: é uma linguagem

de afeto e resistência. Um modo de dizer o indizível. Ao unir o

bruto ao delicado, o esquecido ao simbólico, eu não apenas

componho uma obra — eu componho uma lembrança.

Charles Barreto