Edição 9 - Port - Amazônia - Brazil

Em "Florescer na Amazônia", Érica Nogueira pinta um alerta vital: a respiração do

planeta é a nossa própria, e ela está em risco.

A arte, por vezes, tem a coragem de traduzir o que a ciência nos adverte: que a vida no

planeta depende de uma troca vital de fôlego. Érica Nogueira leva essa premissa às

suas consequências mais poéticas e, paradoxalmente, cirúrgicas. Em sua nova e

magistral série, "Florescer na Amazônia", a artista disseca a anatomia da floresta para

revelar pulmões feitos de pétalas, onde cada inspiração é um ato de beleza e cada

expiração, um alerta. Érica nos arrasta para além da paisagem contemplativa, nos

imergindo em um sistema orgânico do qual somos uma extensão dependente,

pulsando em um uníssono frágil e profundamente ameaçado.

Sua obra é um mergulho na metáfora do "pulmão em flor". Com a fluidez da aquarela e

a incisão da caneta, o ato de respirar se converte em um espetáculo de exuberância e

finitude. A artista confirma que a imagem evoca "tanto a respiração da humanidade,

quanto a vida", um reconhecimento da natureza "efêmera" de ambas. É um testamento

visual de que o sopro que nos anima não é nosso; é um empréstimo do planeta.

Questionada sobre a dualidade entre coração e pulmão, Érica é categórica em sua

escolha: o pulmão representa a "essência da respiração". Sua convicção, quase um

manifesto, é cravada em suas palavras: "sem vida (natureza) no planeta não há vida

(humanidade)!". Essa urgência se infiltra nos pigmentos, um lamento silencioso que ela

verbaliza: "As pessoas estão vivendo hoje como se não houvesse amanhã… e talvez não

haja mesmo… se continuarmos assim…".

Esta não é a flora delicada dos jardins parisienses ou a resiliência árida das flores do

deserto, temas de suas séries anteriores. A paleta da Amazônia, para Érica, é uma

explosão de "exuberância e intensidade" que inspira "força". Essa dualidade dita seu

gesto criativo: o processo se inicia no deslumbramento, pois "a Amazônia é exuberante",

mas rapidamente se aprofunda na "mensagem de alerta", na consciência de que "em

breve não haverá mais tempo para acordarmos".